Título: Economistas: cálculo do IDH é insuficiente
Autor: Vladimir Giotia
Fonte: O Globo, 08/09/2005, Economia, p. 17

Além de educação, expectativa de vida e renda, idéia é incluir dados de violência e desemprego

SÃO PAULO. Os critérios usados para aferir o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) dos países, cujos resultados de 2003 foram divulgados anteontem pela ONU, viraram alvo de críticas de economistas de diferentes correntes. Para Marcio Pochmann, da Universidade de Campinas (Unicamp), o IDH se mostra cada vez mais insuficiente e inadequado para medir o desenvolvimento humano de uma nação. O fato de o índice do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) levar em conta apenas a renda per capita da população, a escolaridade e a expectativa de vida das pessoas, a seu ver, abre espaço para distorções:

¿- Esses indicadores praticamente crescem por inércia, sem grandes esforços. Qualquer governo acaba sempre construindo uma escola, um hospital e, de alguma forma, faz o PIB crescer. Daí que o IDH é um indicador pró-governo, que mostra aspectos positivos quando o ambiente, na verdade, é negativo.

Pochmann lembra que 2003 foi um ano terrível do ponto de vista econômico e social para o Brasil, razão pela qual o IDH do país não poderia ter melhorado. Ele diz ainda que o Pnud não observa a violência e o desemprego para calcular o IDH.

Ele enumera ainda o aumento do desemprego em 2003, a queda de renda do brasileiro ocupado e a redução dos gastos sociais por parte do governo, argumentos que, segundo ele, derrubam a tese de que o Brasil poderia ter melhorado (o país ficou na 63ª posição no ranking mundial, a mesma de 2002).

Ricupero: pobres no Brasil acabam recebendo migalhas

O embaixador Rubens Ricupero, ex-secretário geral da Unctad (órgão da ONU para comércio e desenvolvimento) concorda com Pochmann e lembra que, em 2003, a política econômica do governo Lula teve forte impacto no emprego e na renda média das famílias. E, claro, em qualquer país do mundo, o agravamento do desemprego gera mais pobreza:

¿- Nos últimos oito anos houve avanços significativos nas áreas de saúde e educação no Brasil. Mas, apesar disso, o país não melhorou em termos de pobreza e muito menos em distribuição de renda.

Ricupero, hoje diretor da Faculdade de Economia da Faap, diz que os gastos sociais no Brasil são captados pelos remediados (que não estão mal de vida) e os pobres acabam recebendo migalhas:

¿ Se o país corrigir distorções não só melhora a pobreza como a distribuição de renda.