Título: SOB PROTESTOS, MUBARAK DEVE SER REELEITO HOJE
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Fonte: O Globo, 08/09/2005, O Mundo, p. 21

Oposição denuncia compra de votos e intimidação de eleitores na primeira eleição presidencial multipartidária do Egito

CAIRO. Os egípcios foram ontem às urnas na primeira eleição presidencial do país com mais de um candidato. O atual presidente, Hosni Mubarak, deverá ser reeleito, indicam as pesquisas de opinião, mas a oposição acusa o governo de irregularidades na votação.

A contagem dos votos começou logo que as urnas foram fechadas, às 22h (hora local), depois de 14 horas de votação. O resultado oficial só deverá ser divulgado em três dias, segundo o responsável pela eleição Osama Atawia.

Mubarak concorre com outros nove candidatos, a maioria líderes políticos locais pouco conhecidos. Os opositores denunciaram ontem diversas irregularidades que teriam como objetivo favorecer o atual presidente, como compra de votos, intimidação de eleitores e uso da máquina governamental para favorecer seu candidato. Cairo afirmou que os problemas foram poucos e localizados e que o comparecimento às urnas foi alto.

¿ Isso não é uma eleição, a votação está sendo tratada como mais um referendo. O governo mentiu ¿ afirmou Ayman Nour, um dos principais rivais de Mubarak.

Nour denunciou que o partido do governo e autoridades municipais estariam pagando de US$3 a US$9 por voto e que a tinta usada para apontar quem já votou não seria indelével, permitindo que o mesmo eleitor votasse várias vezes.

A Organização Egípcia de Direitos Humanos, um dos mais importantes grupos independentes do país, também denunciou a compra de votos. As denúncias, no entanto, não foram confirmadas.

O ministro da Informação, Anas el-Feki, admitiu a possibilidade de ocorrência de alguns abusos, mas afirmou:

¿ Estamos vivendo uma experiência nova que será aprimorada no futuro, se Deus quiser, para termos mais liberdade e democracia.

Se vencer, Mubarak ganha o quinto mandato

Centenas de manifestantes se reuniram no centro do Cairo, pregando um boicote eleitoral, mas policiais à paisana dissolveram o ato agredindo muitos ativistas. O governo havia proibido manifestações no dia das eleições.

Mubarak, de 77 anos, já foi eleito para o cargo quatro vezes, desde 1981, em eleições em que era o único candidato, escolhido por um parlamento dominado pelo seu partido, o Nacional Democrata.

Ele mudou o sistema eleitoral este ano, depois que os Estados Unidos e grupos opositores no Egito pressionaram por reformas. Mubarak prometeu ainda mais reformas políticas se for reeleito para mais um mandato de seis anos.

Mas a nova legislação eleitoral egípcia excluiu da votação o maior grupo oposicionista do país, a Irmandade Muçulmana, porque o governo jamais permitiu que fosse registrado como um partido político.

A eleição reacendeu o debate político no país, depois de anos de estagnação, e tornou públicas críticas ao presidente que seriam impensáveis há apenas um ano. Entretanto, dizem os oposicionistas, a estrutura de poder continua a mesma e há dúvidas sobre a disposição de Mubarak de promover verdadeiras mudanças políticas.

A expectativa, no entanto, é de que o atual presidente vença sem dificuldades, em parte pelo controle exercido pelo Estado, mas também em razão de sua longa experiência no cargo. O presidente é admirado por controlar os fundamentalistas.