Título: País defende direitos para reflorestamento
Autor: Luciana Rodrigues e Eliane Oliveira
Fonte: O Globo, 08/09/2005, Economia, p. 15

A participação do Brasil no mercado de créditos de carbono pode ir à estratosfera caso a ONU reconheça uma metodologia que torne elegíveis a créditos os projetos de reflorestamento. O argumento dos que pleiteiam esse direito é de que as árvores, em seu processo de crescimento, absorvem ¿ ou ¿seqüestram¿ ¿ dióxido de carbono da atmosfera. Além disso, o tema consta do Protocolo de Kioto.

Mas a tese é polêmica no meio científico, já que as árvores, ao morrer, também produzem matéria orgânica que emite metano. Até agora, a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (Unfccc, sigla em inglês do órgão responsável na ONU pela implementação do Protocolo de Kioto) não aprovou nenhuma metodologia sobre seqüestro de carbono.

O potencial de ganho para o Brasil é enorme nas indústrias de papel e celulose, que plantam eucalipto, e na siderúrgica, que poderia substituir o coque por carvão vegetal de áreas reflorestadas. Nestes setores, o país tem indústrias de ponta, competitivas.

Mas também há oportunidades em outras áreas. A geradora de energia AES Tietê propôs ao Unfccc uma metodologia para reconhecer o reflorestamento de matas nativas. Vai replantar dez mil hectares, nos próximos seis anos, nas margens do Rio Tietê, para manter a sustentabilidade ambiental dos reservatórios e garantir o aproveitamento energético.

Empresas criticam demora do governo

Hoje, diz a Cepea/USP, há outras dez propostas em análise na Unfccc, de diferentes países, sobre projetos de reflorestamento. O diretor de gestão de Meio Ambiente e Mercado de Carbono da AES Tietê, Demóstenes Barbosa da Silva confia que até outubro a ONU aprovará regra para reflorestamento. Segundo ele, o projeto da AES resultaria na absorção de três milhões de toneladas de dióxido de carbono em 20 anos.

A Aracruz ¿ que já negocia a venda de créditos de carbono graças a um projeto que reduziu a queima de combustíveis no transporte de troncos de árvore ¿ também espera que a Unfccc aprove logo uma metodologia para as florestas plantadas.

¿ Daqui a pouco acaba o primeiro período de compromissos do protocolo, até 2012, e ainda não temos metodologia ¿ queixa-se o gerente de Meio Ambiente da empresa, Ricardo Mastroti.

Mas não só a ONU é alvo de críticas. Empresários e consultores reclamam da demora do governo brasileiro em dar seu aval, exigência do protocolo de Kioto. Marco Antônio Fujihara, diretor de Sustentabilidade da consultoria PricewaterhouseCoopers, acredita que o Brasil pode estar perdendo oportunidades:

¿ É preciso transformar nossa vantagem comparativa em vantagem competitiva.

O Ministério da Ciência e Tecnologia, que coordena o comitê interministerial responsável pelo tema, afirma que os projetos que cumprem os requisitos são aprovados em no máximo um mês. (Luciana Rodrigues)