Título: PT PEDIRÁ PROCESSO CONTRA CALAZANS POR QUEBRA DE DECORO PARLAMENTAR
Autor: Carla Rocha
Fonte: O Globo, 01/11/2004, O País, p. 19

Fita compromete deputado que teria recebido intermediário de Cachoeira

O escândalo da Loterj não só respingou como ameaça de fato o mandato do deputado Alessandro Calazans (PV). Amanhã, o deputado Carlos Minc (PT) vai pedir, com o apoio da bancada do seu partido, a abertura de um processo contra Calazans por quebra de decoro parlamentar, que prevê punições que vão de uma simples suspensão à cassação.

Deputado quer que sejam realizadas acareações

Minc dá como certo que o pedido irá adiante depois da divulgação pela revista ¿Veja¿ de novas fitas, em que Calazans, supostamente, conversa com um intermediário do empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, que acusa o deputado federal André Luiz (PMDB) de ter tentado lhe extorquir R$4 milhões. Minc diz que a denúncia é grave e não pode ficar sem resposta:

¿ O que eu estou falando não é perseguição, individualismo, está no regimento interno. Então, temos que pedir a fita, ouvir as testemunhas e fazer acareações.

A proposta de Minc é que sejam feitas acareações entre o deputado Alessandro Calazans, que presidiu a CPI da Loterj, e Cachoeira e seu suposto intermediário, identificado apenas como Jairo. Como Calazans nega que Jairo fosse intermediário do empresário e sustenta que ele seria na verdade funcionário do deputado federal Bispo Rodrigues (PL-RJ), ele também deverá ser convocado a prestar esclarecimentos. Também é creditado a Rodrigues participação no vazamento da tentativa de extorsão tanto que, em represália, os deputados, na semana passada, votaram pela inclusão do nome dele no relatório final da CPI da Loterj na última hora.

¿ O Calazans era o presidente da CPI e sem dúvida nenhuma o constrangimento é muito maior. As declarações dele na fita, caso sejam verdadeiras, dão a entender que havia um esquema mais amplo e isso deve ser devidamente apurado. Se tudo for confirmado, é um caso típico de perda de mandato.

Segundo as gravações obtidas pela ¿Veja¿, Calazans teria feito a seguinte afirmação a um intermediário de Cachoeira: ¿Na verdade, a orientação foi para passar aquela andorinha. Isso sensibilizava, e a gente ia ver o que ia acontecer... Era parte do R$1,5 milhão¿, teria dito o deputado. De acordo com a reportagem, ¿andorinha¿ era uma referência ao dinheiro.

Alerj já teve dois deputados estaduais cassados

O pedido de quebra de decoro parlamentar tem que ser encaminhado pela presidência da Alerj para a Comissão de Justiça para, depois, virar um projeto de resolução e ser levado à plenário. Nos últimos anos, dois deputados foram cassados no Rio: Aluízio de Castro, já morto, porque teria cobrado propina para aprovar a privatização da Cedae, e Marcos Abrahão, suspeito de envolvimento no assassinato de outro deputado, Valdeci de Paiva