Título: UM RETRATO DISTORCIDO DO RIO
Autor: Flávia Oliveira
Fonte: O Globo, 01/11/2004, Economia, p. 25

Recuperação do setor naval está fora das estatísticas oficiais sobre a indústria fluminense

Odesempenho apenas razoável da produção industrial fluminense nos últimos tempos esconde uma lacuna. Depois de quase sucumbir a uma crise, que começou nos anos 80 e atravessou a década passada, a indústria naval do Rio de Janeiro ressuscitou, de carona com a expansão da atividade petrolífera na Bacia de Campos. Mas o salto na produção e no emprego não vem sendo contabilizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em sua Pesquisa Industrial Mensal (PIM), o mais importante termômetro do segmento no país. Ao atualizar sua pesquisa, em 2002, o IBGE suprimiu o setor naval da relação de atividades industriais do estado, dando início à distorção.

Até dois anos atrás, a ponderação da PIM tomava por base o censo econômico de 1985. Nela, a fabricação de material de transportes, que incluía o setor naval, representava 5,1% da indústria do Rio. Em 2002, o IBGE reformulou o levantamento, usando como referência a Pesquisa Industrial Anual (PIA), realizada entre 1998 e 2000. Neste período, a indústria naval praticamente deixara de existir no estado. Por isso, acabou excluída da PIM. Hoje, o peso do setor de transportes (1,5%) equivale a menos de um terço da participação anterior e contrasta com a recuperação da indústria naval.

IBGE reconhece falha na pesquisa

O secretário estadual de Energia, Indústria Naval e Petróleo, Wagner Victer, afirma que a produção de embarcações para a exploração de petróleo está entre as mais importantes atividades econômicas do Rio. Nos últimos seis anos, segundo Victer, 18 estaleiros foram reabertos no estado; o número de empregos diretos na indústria naval saltou de 500 para 25 mil; e o total de encomendas em carteira saiu de US$50 milhões para US$3,5 bilhões.

¿ Desconsiderar o salto da indústria naval é tirar uma fotografia completamente distorcida da indústria do Rio. Este erro do IBGE traz prejuízos para o estado, porque os indicadores de produção industrial são um termômetro da economia fluminense, uma ferramenta fundamental para atrair novos investimentos. Ter estes números subavaliados é péssimo ¿ diz.

O estado não tem estatísticas precisas sobre o peso da indústria naval na economia fluminense. Mas o secretário está certo de que a participação não é desprezível, uma vez que o setor está completamente vinculado à produção de petróleo, que só faz crescer. Na nova PIM, a extração do óleo representa, sozinha, 28,51% da indústria fluminense e 1,86% vem do gás natural.

A Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) está desenvolvendo estudos para calcular quanto a produção fluminense aumentaria se o setor naval fizesse parte das estatísticas oficiais. A entidade já pediu ao IBGE uma mudança metodológica na PIM para corrigir a distorção, segundo Cristiano Prado, da Assessoria de Pesquisas Econômicas da Federação. Gerente da PIM, Isabella Nunes Pereira, reconhece a necessidade de rever a ponderação, mas informa que, por enquanto, não há qualquer previsão de mudança.

¿ As informações sugerem que a indústria naval ampliou sua participação na produção e no emprego fluminense. Temos uma justificativa metodológica para esta situação, que é o corte estrutural da PIA 1998-2000. Mas isso não nos redime da necessidade de rever a ponderação. Este talvez seja o próximo passo da pesquisa industrial ¿ diz.

Automóveis são destaque este ano

De janeiro a agosto (último dado disponível), a produção industrial brasileira aumentou 8,8% em relação aos oito primeiros meses de 2003. No mesmo período, a indústria fluminense teve expansão de apenas 0,7%, segundo o IBGE. Em 2004, as cinco paradas técnicas em plataformas da Petrobras em Campos fizeram cair 5,5% a produção extrativa mineral, que nos últimos tempos empurrava para cima a indústria do Rio. O setor que mais vem se destacando no estado este ano é o de produção automotiva: em oito meses, subiu 26,5%.