Título: TAXA DE JUROS MAIS ALTA AUMENTA RENTABILIDADE DE AÇÕES DE BANCOS
Autor: Patricia Eloy
Fonte: O Globo, 01/11/2004, Economia, p. 26

Papéis tiveram a maior valorização da Bolsa entre setembro e outubro

O arrocho na política monetária ¿ que levou o Comitê de Política Monetária (Copom) a elevar os juros básicos (Selic) em setembro e outubro ¿ colocou não só um pé no freio do crescimento econômico, mas também encolheu os ganhos dos papéis de empresas ligadas ao setor produtivo. Por outro lado, a Selic mais alta aumentou a atratividade das ações do setor bancário. Nos últimos dois meses (até o dia 28 de outubro), os papéis dos bancos brasileiros tiveram o melhor desempenho do Ibovespa, de acordo com estudo realizado pela consultoria Economática.

As ações do Bradesco foram as que mais subiram no período: 23,05% ¿ ante 0,55% do Ibovespa. Na seqüência ficaram os papéis da Itaú Holding Financeira, da Itausa e do Banco do Brasil, com ganhos de 16,76%, 16,09% e 16,08%, respectivamente.

¿ A alta dos juros e o discurso ortodoxo do Banco Central fizeram com que o setor avançasse sobre os demais na Bolsa. E a ata do Copom, divulgada na última quinta-feira, nos leva a crer que a alta de juros deve prosseguir nos próximos meses, o que aumenta a atratividade dos papéis do segmento ¿ acredita Carlos Carvalho Júnior, sócio da AGC Investimentos.

Preço das ações de bancos atraiu investidores

Os papéis de bancos tiveram fraco desempenho no primeiro trimestre, portanto, as ações eram consideradas ¿baratas¿ pelos investidores.

¿ Enquanto o Ibovespa caiu 0,42% no período, as ações da Itaú Holding recuaram 5,85% e as do Bradesco e do Banco do Brasil, 8,62% e 3%, respectivamente. Isso abriu oportunidades de investimento a partir da elevação dos juros ¿ explica Gustavo Alcantara, gestor de fundos do Banco Prosper.

Para Ricardo Magalhães, gestor de fundos da Mellon Global Investments, o baixo preço das ações potencializou o efeito da alta de juros sobre os papéis:

¿ Com o cenário anterior de juros a 13% ou 14% ao ano em dezembro, não havia grandes perspectivas de ganhos para os papéis. A partir da elevação dos juros, esse cenário se alterou e os investidores passaram a procurar essas ações.

Não passaram pela mesma situação os papéis ligados ao setor produtivo. A maioria superou o Ibovespa, mas teve ganhos bem inferiores aos dos bancos. As ações da Alpargatas ¿ fabricante das sandálias Havaianas ¿ subiram 16,07%, bem acima da média do setor. Entre setembro e outubro, AmBev, Pão de Açúcar, Lojas Americanas e Guararapes (da rede de lojas Riachuelo) renderam 10,52%, 9,20%, 8,89% e 6,67%, respectivamente.

Sadia e Natura tiveram desempenho mais tímido: a primeira rendeu 3% e a segunda, 2,74%. As ações da Perdigão registraram perdas de 0,89%.

Analistas: ideal é diversificar entre os dois setores

¿ O setor de consumo havia subido muito nos últimos meses, diante da expectativa de crescimento mais forte. Com a alta dos juros, muitos começaram a questionar essa expansão. Além disso, os bancos deslancharam em rentabilidade, o que dá a impressão de que o setor produtivo quase não andou ¿ diz Álvaro Bandeira, diretor da Ágora Senior.

Daqui para frente, porém, analistas acreditam que o segredo pode estar em combinar as aplicações nos dois setores.

¿ É o melhor dos dois mundos, especialmente num cenário que ainda precisa de definição. Se os juros continuarem a subir, os bancos ganham. Se as taxas deixarem de subir, o setor produtivo reage. O investidor acaba ganhando duas vezes e está preparado para dois cenários distintos ¿ acredita Gil Deschatre, analista da Fator Corretora.

Magalhães, da Mellon, também aposta na diversificação ente os dois setores e lembra que os bancos são excelentes pagadores de dividendos. Outro estudo da Economática mostra que o Bradesco foi o maior pagador de dividendos dos últimos oito anos, dando ao investidor US$25,10 por ação.

Vale lembrar que o Bradesco lucrou R$752,3 milhões no terceiro trimestre de 2004 ¿ segundo a Economática, o maior resultado já apresentado pela instituição no período nos últimos 16 anos.

¿ Isso significa dividendos mais gordos em 2005, o que deve atrair investidores ¿ acredita Einar Rivero, analista da Economática.