Título: ESFORÇO FINAL CALCULADO
Autor:
Fonte: O Globo, 01/11/2004, O Mundo, p. 28

Bush e Kerry vigiam um ao outro, observam pesquisas e visitam estados cruciais

Os candidatos à Presidência dos EUA deverão passar o dia de hoje ¿ o último da campanha eleitoral ¿ como ontem: com um olho nos movimentos do adversário e outro nos cálculos de seus especialistas em pesquisas de opinião. Afinal, nenhum dos dois tem uma clara e garantida vantagem. E ambos sabem que hoje é sua última chance de atrair os indecisos ¿ que ontem ainda eram cerca de 4% dos que votarão amanhã.

Tanto o presidente republicano George W. Bush quanto o senador democrata John Kerry fizeram comícios na Flórida, mas passaram mais tempo em Ohio. Isto porque as estimativas dos dois partidos coincidiam num ponto: a eleição será decidida naquele estado, com seus 20 votos no Colégio Eleitoral (o vencedor nos votos populares em cada estado leva o total dos votos do colégio correspondentes a cada um).

Segundo assessores, as tendências já haviam praticamente se estabilizado nos outros dois estados considerados campos de batalha mais difíceis, e nos quais ambos estavam empatados até sexta-feira: a conclusão era de que Kerry passara à dianteira na Pensilvânia (21 votos eleitorais) e Bush tinha vantagem na Flórida (27 votos).

Com isso, na soma geral das intenções de voto Bush estaria solidamente na frente em 23 estados e com vantagem mínima em outros quatro, o que lhe daria, segundo a rede de TV ABC, um total de 248 votos no Colégio Eleitoral. E Kerry mantinha boa vantagem em 13 estados e leve favoritismo em outros cinco, com 253 votos no Colégio. Para vencer são necessários 270 votos. A definição dependeria de cinco estados: Wisconsin, Minnesota, Iowa, Novo México e Ohio, com um total de 52 novos votos eleitorais. E a perspectiva era de que cada um dos candidatos venceria por vantagem mínima em dois deles, o que tornava Ohio (21) o fator decisivo. Já o jornal ¿The New York Times¿ ainda mantinha sua previsão anterior: 227 delegados para Bush, 225 para Kerry e 86 indefinidos.

Bush, que é metodista, fez ontem uma incursão numa área que é supostamente de Kerry: foi à missa numa igreja católica em Miami, acompanhado da primeira-dama, Laura, de seu irmão Jeb, que é governador da Flórida, e de outros parentes. Tinha um objetivo específico no pequeno discurso feito ali: cativar os católicos, que tradicionalmente votam no Partido Democrata ¿ e levando em conta que Kerry é católico.

¿ Se você é um democrata que acredita que seu grande partido virou muito para a extrema-esquerda este ano, eu lhe peço, venha para o meu lado ¿ implorou o presidente.

Vídeo de terrorista motiva ataque de Bush

Logo após, apelou à comunidade cubano-americana, num centro de convenções:

¿ Creio firmemente que o povo cubano deveria ser libertado do tirano (Fidel Castro). Nos próximos quatro anos manteremos a pressão para que a liberdade finalmente chegue a homens e mulheres de Cuba. Não descansaremos até que o povo cubano desfrute em Havana das mesmas liberdades que tem aqui nos EUA.

Kerry, por sua vez, discursou em cinco igrejas de comunidades negras em Ohio. E em todas fez as platéias delirarem ao trocar uma palavra numa frase que sempre repete: em vez de dizer ¿se eu for presidente¿, disse ¿quando eu for presidente¿.

¿ Existe um padrão segundo o qual devemos viver. Vir à igreja aos domingos e falar sobre fé, professar a fé, não é tudo. Precisamos também agir, cumprir nossas promessas. Fé sem ação nada vale ¿ disse ele, numa crítica ao fato de Bush repetir que é religioso, mas não ter cumprido ¿mais da metade daquilo que prometeu a todos nós quatro anos atrás¿.

As referências ao reaparecimento de Osama bin Laden foram mínimas. Kerry tocou na questão da segurança nacional, mas explorou mais a má situação da economia do país (com um alto índice de desemprego) e várias questões sociais. Bush procurou reafirmar que é mais duro com os terroristas do que Kerry, mas disse que o adversário estava utilizando o vídeo do líder terrorista para ¿politizar a questão da segurança nacional¿ ¿ tema que, na verdade, é o principal das duas campanhas.

¿ Este é um tipo de estratégia altamente condenável ¿ disse Bush.

A resposta veio de Mike McCurry, assessor especial de Kerry:

¿ É difícil entender como Bush faz uma acusação dessas, já que foi ele quem usou aquele vídeo para fazer um ataque a Kerry.