Título: A sucessão
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 09/09/2005, O Globo, p. 2

O destino do deputado Severino Cavalcanti foi selado ontem, mas a oposição estava tão certa de que isso aconteceria que já vinha discutindo sua sucessão, problema que se apresenta agora também ao governo. Foi temendo a escolha de um adversário implacável que o governo tentou inicialmente garantir a permanência de Severino, possibilidade destruída ontem pela entrevista do empresário Buani.

Ontem mesmo, governistas como o deputado Beto Albuquerque, do PSB, vice-líder do governo, pediram a cassação do presidente da Câmara, antes ainda da entrevista detonadora. Os tucanos haviam trabalhado pela adesão de petistas e governistas, certos de que o movimento pelo afastamento de Severino Cavalcanti não teria resultado se conduzido apenas pela oposição. Mas os fatos se precipitaram, Buani falou quando se sentiu afogado pelo mar de indícios que começou a surgir sobre seu acordo com Severino.

O sucessor, diz o deputado Raul Jungmann, dirigente do PPS, partido que se engajou na primeira hora pelo afastamento de Severino, poderá até ser um petista. Mas não mais por obediência à regra que garante o cargo ao maior partido.

Esta prerrogativa, diz ele, o PT perdeu na medida em que se tornou o partido central do escândalo do mensalão. Mas é certo que o governo lutará para fazer prevalecer a regra, ainda que seja obrigado a negociar o nome de um petista que seja aceito pela Casa e pela oposição.

E nem há, na oposição, com exceção do PFL, tanto interesse em ficar com o cargo. O PSDB não gostaria de ocupar um posto que formalmente o colocaria muito próximo do governo. O PFL o ocuparia para travar uma luta aberta com o Planalto, com vistas inclusive ao impeachment do presidente Lula, mas não deve encontrar apoio para isso no resto da oposição. O PMDB está excluído porque já tem a presidência do Senado. Os partidos médios, PTB, PP e PL, estão queimados por razões bastante conhecidas. E os pequenos não teriam ninguém que, por sua imensa representatividade, dispensasse o critério da proporcionalidade.

Um petista, diz o deputado tucano Eduardo Paes, terá que ser limpo, distanciado do valerioduto e do esquema Delúbio Soares, e absolutamente comprometido com a continuidade das investigações, além de aceito pela maioria da Casa.

¿ Há homens de bem no PT, como os há nos outros partidos. A recuperação da imagem da Câmara passa também pela demonstração de que eles existem em todos os partidos.

Os nomes do PT são os quatro já citados aqui: Sigmaringa Seixas, Paulo Delgado (hoje o deputado mais antigo do partido), Eduardo Cardozo (muito apreciado por sua conduta na CPI dos Correios) e o líder do governo, Arlindo Chinaglia. Mas por razões diferentes ¿ Eduardo Cardozo porque deve continuar na CPI e Arlindo Chinaglia porque ganhou como líder a cara do governo ¿ os dois primeiros, Sigmaringa Seixas e Paulo Delgado, levam mais chance.

E assim, a crise continua, cada vez mais dentro do Congresso.