Título: Claque vai do Acre ao Peru para aplaudir Lula
Autor: Cristiane Jungblut
Fonte: O Globo, 09/09/2005, O País, p. 8

PCdoB e PT organizam viagem de 600 pessoas para lançamento de pedra fundamental de rodovia no país vizinho

PUERTO MALDONADO (Peru). O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi aplaudido ontem em território peruano, inclusive por cerca de 600 brasileiros, levados do Acre para a cerimônia de lançamento da pedra fundamental da Rodovia Interoceânica, que vai ligar Brasil e Peru. Os manifestantes disseram que não pagaram pela travessia até a cidade peruana de Puerto Maldonado nem pelos lanches. Segundo a deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC), as despesas foram pagas por partidos (PT e PCdoB). Empresários teriam oferecido ônibus.

O governador do Acre, Jorge Viana (PT), disse que não pagou as despesas dos manifestantes e que o comboio foi uma iniciativa de partidos e empresários.

A claque para aplaudir Lula viajou cerca de 500 quilômetros, em até 10 horas, em ônibus que saíram de Rio Branco e de cidades mais próximas da fronteira, como Assis Brasil e Brasiléia. Foram distribuídas 500 camisetas vermelhas, verdes e amarelas com a inscrição ¿Lula. Integração Brasil-Peru. O Acre agradece¿. Manifestantes portavam bandeiras vermelhas com o nome de Lula. A sigla do PCdoB apareceu em diversas faixas, enquanto a do PT, em poucas.

O senador Sibá Machado (PT-AC) contou que o comboio de ônibus, carros e vans veio parando pelas cidades.

¿ Sou petista e vim dar apoio ao presidente ¿ disse Ana Carvalho de Oliveira, de Brasiléia.

¿ Essas denúncias não têm nada a ver com o trabalho dele. É porque a eleição vem aí. Mas não vão envenenar ninguém ¿ disse o agricultor Francisco Saraiva, de camiseta vermelha.

Lula desfila em carro aberto

Lula desfilou em carro aberto por Puerto Maldonado, ao lado dos presidentes do Peru, Alejandro Toledo; e da Bolívia, Eduardo Rodríguez. No palanque montado no quilômetro 13 da rodovia, Toledo e Jorge Viana fizeram discursos encorajando Lula a superar a crise.

¿ Nossos países estão cheios de esperanças e de crises. Rogo a Deus que na Bolívia se resolva a crise pela democracia. E a você, Lula, digo-lhe: coragem! Não tenha medo das pedras no caminho. Eles ladram, Sancho, porque estamos fazendo rodovias ¿ disse Toledo, adaptando um diálogo de Dom Quixote e Sancho Pança, do escritor espanhol Miguel de Cervantes.

Os manifestantes usaram palavras de ordem da campanha. ¿Lula é meu amigo. Mexeu com ele, mexeu comigo¿, gritavam os manifestantes, grande parte se identificando como filiados e militantes do PT e do PCdoB.

Na mesma linha de Toledo, Viana disse que o país enfrenta uma série crise, mas que Lula sairá dela ainda mais forte.

¿ A gente vive uma crise, mas não é do governo. É dos partidos, é do Congresso. Lula já passou por todas as provações na vida e sei que vai transformar essa crise em mais um desafio. E vai sair melhor dela, mais forte. O apoio está em toda parte.

Até o governador da província de Madre de Dios (da qual Puerto Maldonado é capital), José de la Rosa del Maestro Ríos, defendeu Lula, dizendo que o brasileiro está sendo atacado por ser um ¿presidente-operário¿.

Mais tarde, em entrevista, Toledo disse que quis dar uma palavra de alento ao amigo Lula.

¿ Sei o que são momentos difíceis e há que se ter coragem para superá-los. Sei que ele tem. Lula é um homem de luta, como eu. Quando alguém trata de fazer mudanças, tem que estar disposto a enfrentar oposição. Sei que os irmão brasileiros vão entender que produzir mudanças é uma tarefa difícil.