Título: DINHEIRO NA CUECA: SEM PUNIÇÕES ATÉ AGORA
Autor: Isabela Martin
Fonte: O Globo, 09/09/2005, O País, p. 8

Legislativo do Ceará leva dois meses para convocar irmão de Genoino a depor sobre escândalo

FORTALEZA. Dois meses e um dia após a prisão de seu então assessor parlamentar com dinheiro na cueca, o deputado estadual José Nobre Guimarães (PT-CE) será notificado apenas hoje pela ouvidoria da Assembléia Legislativa para se defender do envolvimento nesse episódio, que precipitou o afastamento de seu irmão José Genoino da presidência do PT. Não houve punições até agora.

Guimarães também terá que dar explicações sobre os R$250 mil que recebeu das contas do publicitário Marcos Valério, apontado como operador do mensalão no Congresso. O petista tem até a próxima sexta-feira para apresentar sua defesa por escrito. O ouvidor, deputado Antônio Granja (PSB), terá cinco sessões para dar o parecer que será votado pelo Conselho de Ética da Assembléia. O resultado, submetido ao plenário, pode ir da abertura de processo por quebra de decoro até o arquivamento das denúncias.

Uma sindicância do PT sobre o caso não pediu punições. A Comissão de Ética do partido sequer convocou Guimarães para depor, porque acolheu um pedido dele para ser ouvido na mesma comissão do diretório nacional, do qual é integrante.

O relatório fica pronto semana que vem e vai falar em traição, não em punição, segundo Francisco Jerônimo do Nascimento, que é da comissão. Em parte porque não há quem punir. O ex-assessor de Guimarães preso com cem mil dólares na cueca e R$209 mil na mala, José Adalberto Vieira da Silva, pediu desfiliação. O mesmo fez o advogado Kennedy Moura Ramos, ex-assessor jurídico do deputado, suspeito de ser o destinatário do dinheiro. Ele também pediu exoneração do cargo de assessor especial da presidência do Banco do Nordeste três dias após o escândalo.

O Ministério Público Federal (MP) afirma ter indícios de que o dinheiro seja propina resultante de um contrato do BNB com o consórcio Sistema de Transmissão do Nordeste (STN).

Sobre os R$250 mil que teriam saído das contas de Marcos Valério, o deputado afirmou, num pronunciamento em que até chorou, que tudo foi usado para quitar dívidas não contabilizadas da campanha do candidato do PT ao governo do estado em 2002, José Airton Cirilo. Guimarães contou que o então tesoureiro do PT, Delúbio Soares, pediu-lhe para pegar o dinheiro em Brasília e negou saber que se tratava de caixa dois.