Título: MILAGRE IRLANDÊS, AÇÃO DIFÍCIL NO BRASIL
Autor: Fernando Duarte
Fonte: O Globo, 09/09/2005, Economia, p. 21

Com juro baixo e corte de gastos, Irlanda dá salto no desenvolvimento humano

LONDRES. No fim dos anos 80, as previsões para a Irlanda eram de um futuro sombrio. Às voltas com um índice de desemprego de 17% e inflação alta, o país estava entre os mais pobres da Europa. Já nos anos 90, o Tigre Celta crescia quase 7% ao ano, culminando com um espetacular salto no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da ONU.

Na lista, divulgada na terça-feira, a Irlanda aparece em oitavo, à frente mesmo dos britânicos (15º ). Os irlandeses são hoje o terceiro mais rico entre os 25 membros da União Européia, com renda per capita de mais de US$37 mil, taxa de desemprego de 4%, índice de analfabetismo de 1% e expectativa de vida de 77,7 anos.

Além de ter se beneficiado da ajuda econômica da União Européia para investir em sua infra-estrutura, a Irlanda ousou em sua política econômica: concentrou-se nas indústrias de ponta (computadores, farmacêuticos e equipamento hospitalar), atraindo grande volume de investimento.

Um cenário facilitado pela política monetária e fiscal de austeridade, marcada por juros baixos e cortes nos gastos públicos, que resultaram na queda da dívida pública como proporção do PIB da faixa de 120% para 30%. Na terça-feira, ao analisar a situação do Brasil no ranking do IDH (63º lugar), o exemplo irlandês foi um dos mais citados pelos analistas ouvidos pelo GLOBO. Porém, especialistas irlandeses chamam a atenção para as diferenças de contexto.

Modelo não é transferível, mas ambiente de negócios ajuda

Além de ser um país pequeno e com só quatro milhões de habitantes, a Irlanda contou, para alavancar sua economia, com a criação do Mercado Comum Europeu, em 1992. Isso permitiu ao país ganhar mais acesso aos vizinhos.

¿ O modelo não é transferível, mas o Brasil pode adotar políticas como a promoção de um ambiente de negócios estável, com política fiscal favorável a investimentos ¿ diz Dan O¿Brien, diretor da Economist Intelligence Unit, centro de estudos da revista ¿Economist¿.

Mas se não se pode esperar o mesmo resultado, passos nessa direção podem ser positivos.

¿ Aspectos do modelo irlandês (que investiu pesado em educação) poderão ao menos estimular o crescimento do país e fazer as pessoas mais felizes ¿ diz O¿Brien, referindo-se ao estudo que aponta a Irlanda como o país com melhor qualidade de vida entre 111 nações.