Título: APÓS QUATRO ALTAS, INDÚSTRIA CAIU 2,5% EM JULHO
Autor: Luciana Rodrigues
Fonte: O Globo, 09/09/2005, Economia, p. 23

Produção recuou em relação a junho, no pior desempenho desde dezembro de 2002. IBGE vê acomodação

Depois de crescer por quatro meses seguidos e puxar a expansão da economia brasileira no primeiro semestre, a indústria pisou no freio em julho. A produção do setor caiu 2,5% na comparação com junho, já descontados os efeitos sazonais, no pior desempenho desde dezembro de 2002, informou ontem o IBGE. Houve queda em todas as grandes categorias da indústria e em 20 dos 23 segmentos para os quais há dados com ajuste sazonal. Mas, na avaliação de analistas do mercado e de técnicos do IBGE, mais do que uma queda, o resultado de julho mostra uma acomodação da indústria.

Frente a julho do ano passado, a produção teve uma leve expansão, de 0,5%, a taxa mais baixa nesse tipo de comparação desde agosto de 2003. E a ligeira alta só foi possível graças ao setor extrativo, com aumento de 10,9%, já que a indústria de transformação ficou estagnada. A produção industrial acumula no ano alta de 4,3% e, em 12 meses, de 5,8%.

Analistas não vêem impacto da crise política

O coordenador de Indústria do IBGE, Silvio Sales, explica que o resultado da produção em julho se aproxima do de outras pesquisas, que mostravam uma piora na confiança dos empresários. Mas, segundo Sales, não se pode dizer que houve uma inversão na trajetória de alta da indústria este ano.

¿ As vendas industriais também caíram em julho (segundo a última pesquisa da Confederação Nacional da Indústria, a queda foi de 0,33%) e o setor pode estar ajustando seus estoques. O ritmo de produção apresentou uma queda muito concentrada em julho e é cedo para saber se foi um ponto isolado ou se houve uma mudança de patamar ¿ afirma.

Pelas contas do IBGE, a queda de julho fez a indústria voltar ao patamar de produção registrado entre abril e maio deste ano. Nos últimos três meses, o ritmo médio de produção aponta para uma estabilidade do setor, ressalta Sales.

O IBGE revisou os dados de junho que, antes, mostravam uma alta de 1,6% frente a maio, com ajuste sazonal. Agora, com a correção, constatou-se que a indústria cresceu com mais força em junho: 2%.

¿ Essa revisão de junho torna ainda mais relativa a queda registrada em julho, já que a base de comparação era na verdade maior ¿ diz Sales.

O economista Rafael Barroso, do Grupo de Conjuntura da UFRJ, destaca que o calendário influenciou no resultado. Junho teve um dia útil a mais em 2005 e julho, por sua vez, foi mais curto, exceções não captadas pelo ajuste sazonal.

¿ Então, nem junho foi tão bom nem julho foi tão ruim. Na média, a indústria cresceu 1,4% nesses dois meses ¿ calculou.

Barroso aposta que, em agosto, o desempenho do setor voltará a ser favorável e descarta que a crise política tenha afetado a indústria:

¿ A crise política se agravou desde julho e os indicadores já disponíveis para agosto, como importação de bens intermediários, mostram que a indústria manteve seu vigor. A queda de produção em julho foi apenas uma acomodação cíclica.

Produção de máquinas e equipamentos caiu 7,6%

Avaliação semelhante tem o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), que considera um ajuste o recuo na produção em julho, depois do forte desempenho de junho, e não vê impactos da crise política.

O resultado de julho frustrou os analistas do mercado, que esperavam uma queda bem menor na produção industrial, em torno de 0,8%, frente a junho. Para Giovanna Rocca, do Unibanco, o recuo de 7,6% nos bens de capital (máquinas e equipamentos usados para ampliar a capacidade produtiva), o maior entre as grandes categorias da indústria, traz preocupações sobre a trajetória dos investimentos no Brasil. Mas Barroso, da UFRJ, argumenta que a importação de bens de capital tem crescido, o que pode compensar essa queda na produção interna.