Título: CHÁVEZ RADICALIZA
Autor:
Fonte: O Globo, 10/09/2005, Opinião, p. 6

Opresidente Hugo Chávez, da Venezuela, já declarou abertamente sua rejeição ao que chamou de ¿modelo capitalista¿, como sendo incompatível com a Revolução Bolivariana que ele preconiza. O modelo que Chávez prefere seguir é outro: o do regime totalitário e autocrático ¿ e a esta altura já perto da obsolescência ¿ de Fidel Castro.

Faz todo sentido, portanto, a nova investida de Chávez contra a liberdade de mercado, por meio da imposição de representantes do governo no conselho de cada banco privado. Não é estatização, formalmente, mas na prática significa a tomada de parte do controle das instituições pelo Estado, e um passo adicional na política de gradual e sistemático cerceamento das liberdades adotada pelo presidente da Venezuela.

Chávez não teria condições de pôr em prática sua política antidemocrática, não fosse a estratégia populista em que está empenhado, e cuja faceta mais recente é a exigência de co-participação dos trabalhadores na gestão das empresas privadas, como condição para a concessão de crédito bancário oficial. Foram medidas assim que lhe deram a vitória no referendo de um ano atrás, que assegurou sua permanência no poder até 2007.

Os programas voltados para a população mais carente custam caro, mas por enquanto podem ser financiados pela farta receita do petróleo, que está em forte alta e do qual a Venezuela é grande produtora e exportadora. Isso na realidade significa que Chávez, além de atentar contra a democracia venezuelana no presente, está pondo em xeque o futuro econômico do país, ao manietar as forças produtivas do mercado livre e esbanjar em medidas assistencialistas e demagógicas o dinheiro que deveria estar sendo investido em infra-estrutura e modernização.

O problema maior é que a oposição a Hugo Chávez parece inteiramente incapaz de se organizar para enfrentá-lo. Em 2002 houve a tentativa de derrubá-lo por meio de um golpe; seguiu-se, apenas dois dias depois, um bem-sucedido contragolpe.

De lá para cá, Chávez ampliou e consolidou sua popularidade, apelando para os mais pobres. E por enquanto não se vê resistência à altura da ameaça que ele representa.