Título: UMA NOVA GERAÇÃO
Autor: D. EUGENIO SALES
Fonte: O Globo, 10/09/2005, Opinião, p. 7

Nem todo jovem brasileiro teve a oportunidade de assistir, pela televisão, aos momentos marcantes da XX Jornada Mundial da Juventude, em Colônia, Alemanha de 16 a 21 de agosto de 2005. Creio também prestar um bom serviço religioso às diversas faixas etárias, trazendo ao conhecimento público alguns aspectos desse extraordinário acontecimento.

O evento foi iniciativa do Papa João Paulo II. Ele havia feito um convite à mocidade dos diversos e variados países do mundo para um encontro com ele na Praça de São Pedro. Trezentos mil jovens responderam afirmativamente com sua presença e lá se reuniram no Domingo de Ramos do ano de 1984.

Em nossos dias, muitos jovens, desiludidos, buscam novos caminhos nas drogas, têm do sexo uma perspectiva meramente hedonista, um conceito materialista da vida, um estilo musical e maneira de vestir-se característicos. Procuram a solução para sua insatisfação na revolta e no protesto. Um modo de viver totalmente contrário ao ensinamento de Jesus Cristo atrai muitos, como ocorreu aqui e alhures, com grandes concentrações para exaltação do homossexualismo. Como dispõem dos meios de comunicação social ou de pessoas influentes que os utilizam na formação de uma opinião pública favorável a procedimentos anticristãos, dão uma impressão que não corresponde à realidade. Contudo, há o reverso da medalha: numerosos jovens vivem muito diferentemente ou desejariam fazê-lo.

A iniciativa foi oficializada dois anos depois, em 1986, integrando o calendário da Igreja Católica. O Pontífice realmente acreditou que uma nova geração começava a surgir, capaz de refletir sobre os instintos que destroem e os valores que constroem um auspicioso presente, futuro da juventude moderna.

A Providência Divina colocou, agora, à frente de sua Igreja, Bento XVI, um homem vindo da pátria da juventude de Hitler, quando a participação na organização paramilitar nazista era compulsória. Nunca foi membro do partido, nem sua família integrava o regime de Hitler. O antecessor, João Paulo II, veio da Polônia, conhecedor da verdadeira grandeza desse período da vida e da viabilidade de uma transformação profunda. Creio que muitos puseram em dúvida esse plano, mas houve quem acreditasse nele. O alicerce estava no acolhimento generoso, amigo, sem fazer concessões para conseguir adeptos. O jovem autêntico procura a verdade e assim aceita vivê-la, mesmo com sacrifício.

O intento de João Paulo II era dar uma oportunidade para que os jovens de todas as partes do mundo pudessem refletir sobre os valores cristãos, nos dias atuais, e se sentissem apoiados por outros da mesma idade. No 20º aniversário das Jornadas Mundiais da Juventude, em Colônia, estava ausente quem havia começado esse trabalho à frente da Igreja? Não! Pois o seu sucessor, Bento XVI, fazia-o presente com o mesmo entusiasmo, pois é Deus quem dirige e governa sua Igreja. No encerramento do evento na Alemanha, já anunciou a próxima Jornada da Juventude: em Sidney, na Austrália, no ano 2008.

Longo e fantástico caminho. Recordo que ao encerrar o Ano da Redenção, João Paulo II entregou aos jovens uma cruz de madeira de quatro metros de altura, pedindo-lhes que a levassem pelo mundo afora. Eu assisti pessoalmente ao episódio. O pedido foi atendido. Vejamos as etapas da imensa tarefa de levar a mensagem de Cristo aos homens que se distanciaram de Deus ou jamais ouviram falar de Jesus, o Redentor. Em Roma, foi realizada a primeira Jornada Mundial da Juventude, em 1985. A seguir a segunda, em Buenos Aires (Argentina), 1987; Santiago de Compostela (Espanha), 1989; Czestochova (Polônia), 1991; Denver (Estados Unidos), 1993; Manila (Filipinas), 1995; pela segunda vez, em Roma, no ano 2000; Toronto (Canadá), 2002.

Na Alemanha, o anúncio da próxima Jornada. Estava presente uma multidão superior a um milhão de jovens de 193 países. Do Brasil eram cerca de 5.000, incluindo 300 do Rio de Janeiro. A realização dessa XX Jornada Mundial da Juventude teve grande divulgação pelos meios de comunicação social para todo o universo. Os comentários da imprensa leiga, não só da Alemanha, foram em geral muito favoráveis. Compareceram 60 cardeais e 880 bispos. Na cerimônia de boas-vindas esteve presente o presidente da República, o senhor Horst Köhler. O Santo Padre, Bento XVI, comovido, pôde dizer: ¿Estou feliz por me encontrar no meio dos jovens, para confirmar a sua fé.¿

Um jornal com circulação em toda a Alemanha, em grande destaque publicou a foto de Bento XVI, presidindo o encerramento da Jornada Mundial da Juventude para uma multidão de um milhão de pessoas e ressaltou: ¿Quem escuta ainda a voz do Papa.¿ Fico a pensar na campanha difamatória, inclusive no Brasil, contra o cardeal Josef Ratzinger por ocasião da eleição do sucessor do João Paulo II, o grande... Essa resposta dada pela XX Jornada Mundial contém um convite: seguir as diretrizes do Sucessor de Pedro.

D. EUGENIO SALES é cardeal-arcebispo emérito do Rio de Janeiro.

Na praça, mais de um milhão de jovens alemães