Título: GARÇONS CONFIRMAM PAGAMENTO DE MENSALINHO
Autor: Gerson Camarotti e Adriano Ceolin
Fonte: O Globo, 10/09/2005, O País, p. 8

Funcionários de Buani dizem que levaram cinco envelopes com mesada ao gabinete de Severino

BRASÍLIA. Os garçons José Ribamar Silva e Hélio Antônio da Silva endossaram a denúncia do patrão, Sebastião Augusto Buani, dono da rede de restaurantes Fiorella, que confessou o pagamento de propina ao presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE). Ribamar e Hélio disseram ao GLOBO ontem à tarde que levaram pelo menos cinco envelopes com o dinheiro da suposta mesada de R$10 mil que Buani pagou a Severino em 2003, quando o deputado era o primeiro-secretário da Câmara.

¿ Sim, levei dinheiro para a primeira-secretaria. Entreguei duas vezes para uma loura e uma vez para uma morena (secretárias de Severino). Era um negócio profissional. Chegava, entregava e ia embora. Não precisava falar nada ¿ disse Hélio.

As secretarias seriam Russely e Gabriele. As duas foram interrogadas ontem à noite pelo delegado Sérgio Meneses, responsável pelo inquérito do mensalinho. Buani também prestou depoimento ontem e reafirmou que pagou propina de cerca de R$128 mil a Severino entre 2002 e 2003. Após o depoimento, o empresário até desafiou o deputado para uma acareação.

¿ Pode me botar em acareação com quem você quiser, na hora que você quiser. Tudo que eu disse repito na frente de Severino, de Lula, de quem for. Estou com a alma lavada.

Buani reforçou a acusação sobre o envolvimento do deputado Gonzaga Patriota (PSB-PE) nas negociações do contrato do Fiorella com a Câmara, motivo do pagamento da mesada.

Garçom diz que filha de Buani intermediava entrega

Hélio contou que fazia a entrega da mesada a pedido de Gisele Buani, filha de Buani e gerente financeira do Fiorella. Ela recolhia o dinheiro do caixa, botava em envelopes brancos e mandava os garçons considerados mais confiáveis levá-los até o gabinete de Severino.

¿ Ela ligava do escritório. A gente ia lá, pegava o envelope e ela só dizia assim : `É dinheiro, toma cuidado¿. Os envelopes estavam grampeados. Mas dava para perceber que era dinheiro ¿ disse o garçom.

O maitre Ribamar confirmou o relato do colega. Disse que levou os envelopes à primeira-secretaria duas vezes. Garçom na Câmara há 30 anos, Ribamar sabia que era uma tarefa incomum, mas não desconfiou de que se tratava de propina:

¿ Como eu ia imaginar uma coisa dessa ? Ainda mais em relação ao presidente da Câmara.

Marcos César Vasconcelos, assessor jurídico da presidência da Câmara, entregou à PF um conjunto de atos assinados por Severino para mostrar incongruências entre os papéis oficiais e o parecer de renovação do contrato do Fiorella apresentado por Buani como ponto de partida do mensalinho. Vasconcelos insinuou que o texto da ampliação do prazo, com a assinatura de Severino, é falso.

¿ Pode ser uma grande imitação ¿ disse ele.

Já Buani reafirmou que presenciou Severino assinar o documento. O empresário repetiu que coube a Patriota elaborar o parecer, base da renovação do contrato. Na quinta-feira, Buani disse que pagou R$128 mil a Severino para assegurar a prorrogação do contrato do Fiorella com a Câmara por três anos.