Título: JUSTIÇA ACEITA DENÚNCIA DA PF CONTRA MALUF
Autor: Adauri Antunes Barbosa
Fonte: O Globo, 10/09/2005, O País, p. 10

Filho do ex-prefeito e mais duas pessoas também foram atingidos pela decisão. Prisões podem acontecer hoje

SÃO PAULO. A juíza Sílvia Maria Rocha, da 2ª Vara Criminal Federal de São Paulo, aceitou ontem na íntegra a denúncia da Polícia Federal, que tinha sido endossada pelo Ministério Público Federal, contra o ex-prefeito Paulo Maluf (PP), de São Paulo, seu filho Flávio Maluf, o doleiro Vivaldo Alves, o Birigüi, e Simeão Damasceno de Oliveira, ex-diretor da construtora Mendes Júnior.

Embora tenha aceito a denúncia ontem, a juíza não quis revelar sua decisão sobre os pedidos de prisão preventiva contra Maluf e seu filho. Os quatro passam a ser réus dos crimes de evasão de divisas, corrupção passiva, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. A pena mínima é de oito anos de prisão.

¿ Não posso comentar a decisão que tomei porque o processo está sob segredo de Justiça e, além disso, pode atrapalhar as investigações ¿ disse a juíza Sílvia Maria, segundo a assessoria de imprensa da Justiça Federal.

Direito do cidadão de não ser preso em casa à noite

Como a Constituição, no artigo 5º, inciso 11, garante o direito a todo cidadão de não ser preso em casa à noite, a atitude da juíza pode ser interpretada como de não querer antecipar a prisão de Maluf e seu filho hoje cedo.

Ontem, no ¿Jornal Nacional¿, o doleiro Birigüi disse que Paulo e Flávio Maluf não queriam que ele revelasse como operou US$160 milhões que saíram ilegalmente do Brasil e foram para os Estados Unidos.

¿ A preocupação deles, desde o início, era que eu não relatasse nada e que eu só falasse na Justiça. Eles insistiram porque não queriam que eu falasse sobre US$160 milhões ¿ disse Birigüi, citando o valor, periciado pelo Ministério Público, que passou pela conta ¿Chanani¿, aberta pelo doleiro no Safra National Bank, de Nova York, para Maluf e sua família durante um período de um ano e meio.

De acordo com Vivaldo Alves, a conta ¿Chanani¿ foi aberta a pedido de Flávio Maluf. Ele a operava e ganhava uma comissão, por isso é considerado testemunha fundamental para provar a corrupção constada na Prefeitura de São Paulo e o envio de dinheiro público desviado para contas no exterior.

¿ Eu fui procurado por ele (Flávio) e ele me falou que no ano de 1998 ele precisava fazer uma movimentação muito grande e precisava ter uma conta de passagem nos Estados Unidos. Isso significa uma conta em que o dinheiro entra em grandes volumes e sai em pequenos volumes. Essa conta existe para não mostrar de onde veio o dinheiro, para deixar menos rastro ¿ disse o doleiro ao ¿JN¿.

De acordo com o doleiro, a ¿Chanani¿ era abastecida por contas de outros 14 bancos, três dos Estados Unidos, um das Ilhas Cayman, dois das Bahamas, um de Jersey, seis da Suíça e um da Inglaterra. Do Citibank de Genebra, na Suíça, a conta ¿Chanani¿ recebeu de uma só vez US$7 milhões. Três dias depois, um outro depósito de US$8 milhões foi creditado, vindo do BCN das Ilhas Cayman. De acordo com Birigüi, da ¿Chanani¿ o dinheiro era transferido para contas de empresas.

O dinheiro, segundo o doleiro, ia para outras contas nos Estados Unidos, na Suíça, na Inglaterra e na Alemanha e era também utilizado para pagar contas pessoais da família Maluf, como a estadia de Flávio n um chalé em uma estação de esqui nos Estados Unidos. Os extratos obtidos pela polícia mostram pagamentos de despesas nas duas casas de leilões mais famosas do mundo.

¿ Eu faço pagamentos para a Christie¿s, faço pagamento para a Sotheby¿s, pagar obras de arte do senhor Paulo Maluf ¿ revelou Vivaldo Alves.