Título: EX-PREFEITO ENVIOU MILHÕES EM OURO AO EXTERIOR
Autor: Soraya Aggege
Fonte: O Globo, 10/09/2005, O País, p. 11

Ministério Público de São Paulo afirma ter provas de outro esquema de Maluf para desviar dinheiro público

SÃO PAULO. O Ministério Público de São Paulo informou ontem que reuniu provas sobre mais um suposto esquema de Paulo Maluf para desviar dinheiro público. O ex-prefeito mandou mais de US$5 milhões (R$11,5 milhões) para o exterior em barras de ouro, segundo o promotor de Justiça Sílvio Marques.

O esquema envolveria vários doleiros, que recebiam de sub-empreiteiras das obras da Avenida Água Espraiada e do Túnel Ayrton Senna, da Prefeitura de São Paulo, e comprariam ouro em barras na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BMF) para ser enviado ao exterior.

¿ Ainda não fechamos o rastreamento do esquema, mas já juntamos provas materiais. Foram pelo menos US$5 milhões em ouro ¿ afirmou Marques.

O promotor explicou que já obteve comprovantes da venda para doleiros envolvidos no esquema. Segundo Marques, autor de várias ações contra Maluf, foram identificados até agora três esquemas de repasses de um montante de pelo menos US$235 milhões (R$540 milhões) de propinas que teriam sido recebidas por Maluf nas duas obras. No total, as obras custaram US$1,2 bilhão (R$2,7 bilhões). A margem de propina teria sido de 37% (R$1 bilhão), sendo que 20% teria sido a margem do ex-prefeito, o que totaliza R$540 milhões (US$235 milhões).

Antes do esquema do ouro, foi rastreado pelo MPE o principal, operado pelo sistema financeiro, em contas no exterior. O montante chegaria a US$200 milhões, espalhados por pelo menos seis países.

¿ Desse caso já temos provas concretas ¿ disse.

O terceiro esquema seria o pagamento direto de propinas, feito em dólares, na casa do ex-prefeito e de seu ex-secretário Reynaldo de Barros. Embora tenha conseguido depoimentos de testemunhas, o MPE não obteve provas mais efetivas.

Um dos advogados de Maluf que atua no caso, José Roberto Leal, considerou um completo absurdo o suposto esquema do ouro.

¿ Estou estarrecido. Nunca ouvi falar disso. Queremos ver essas provas, duvido que existam ¿ disse Leal.

O promotor Sílvio Marques afirmou ainda que a conta denominada ¿Chanani¿, no Banco Safra, nos Estados Unidos, está praticamente explicada. O MPE descobriu, pelo cruzamento de planilhas de 1997 e 1998, que vários grupos de notas fiscais da prefeitura (via Emurb) para a construtora Mendes Júnior eram pagas com um mesmo cheque. Cada valor corresponde com exatidão, inclusive de centavos, nas anotações do controle de caixa 2 da construtora, reveladas pelo ex-diretor da Mendes Júnior Simeão Damasceno. O caixa dois, negado pela empresa, considerava as subcontratações. As sub-empreiteiras repassariam o dinheiro para os doleiros, que lançavam o dinheiro na conta Chanani, dos Estados Unidos. O total confirmado no montante líquido do caixa dois é de R$13.512.885,34, exatamente o mesmo operado na Chanani, como dinheiro limpo nos EUA.

¿ Os cheques correspondem exatamente aos valores mostrados no caixa 2 mostrado por Simeão e constam exatamente nos extratos internacionais que já recebemos¿ disse Marques, que reafirmou estar convicto de que há provas suficientes para a condenação de Maluf.

A juíza Sílvia Maria Rocha, da 2ª Vara Federal de São Paulo, não tinha decidido até ontem à noite sobre o pedido do Ministério Público Federal, que também atua no caso, de prisão preventiva de Maluf e seu filho Flávio, por obstrução de testemunhas. Ela deve decidir entre hoje e amanhã, pois na segunda-feira sairá de férias, segundo sua assessoria de imprensa. Maluf espera a decisão em sua casa de Campos do Jordão.