Título: ARGENTINA EMITIRÁ BÔNUS MERCADO INTERNACIONAL
Autor: Enio Vieira e Patricia Eloy
Fonte: O Globo, 10/09/2005, Economia, p. 30

Após 3 anos, país quer captar US$1 bi com vencimento em 2015

BUENOS AIRES. Após três anos de ausência, a Argentina retornará no próximo dia 21 de setembro ao mercado internacional. Segundo confirmaram ontem fontes do Ministério da Economia do país, o governo Néstor Kirchner emitirá cerca de US$1 bilhão em bônus com vencimento em 2015. Segundo analistas locais, os papéis argentinos sairão com juros entre 8% e 8,5%.

¿ O governo quer aproveitar um bom momento para os papéis de países emergentes. Com as taxas muito baixas nos Estados Unidos, os títulos argentinos deverão ser muito procurados. O fantasma do calote já foi superado ¿ explicou o analista Rafael Ber, da empresa de consultoria financeira Argentine Research.

Segundo ele, com uma taxa de risco-país (que é calculada pelo banco americano JP Morgan e mede a confiança dos investidores estrangeiros na capacidade de o país honrar suas dívidas) em torno dos 400 pontos centesimais, a Argentina voltou a ser uma alternativa, sobretudo para os especuladores.

¿ Esta será uma emissão pequena, pensada justamente para investidores que gostam de especular com bônus de países como Argentina e Brasil ¿ disse Ber.

Além de realizar um primeiro teste no mercado externo, o governo Kirchner buscará captar os recursos necessários para cobrir as necessidades de financiamento do país nos últimos meses de 2005 e em 2006. Até o fim deste ano, a Argentina deverá pagar em torno de US$2,3 bilhões aos organismos multilaterais de crédito. Entre 2006 e 2007, o país deverá desembolsar US$7 bilhões e US$6,2 bilhões, respectivamente, para honrar seus compromissos com os organismos internacionais.

¿ (Este tipo de emissão) é basicamente a administração de passivos. O refinanciamento dos compromissos já assumidos ¿ assegurou o ministro da Economia, Roberto Lavagna.

Governo já fez quatro leilões no mercado interno

Ainda sem acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) ¿ as negociações foram retomadas em julho passado ¿ a Argentina precisa captar recursos nos mercados. Desde que foi encerrada a renegociação da dívida pública, em 25 de fevereiro, o governo argentino realizou quatro leilões no mercado interno. No caso dos títulos em pesos, com vencimento em 2012 (Boden 2014), os papéis pagaram juros de 6,5%, 5,51% e 5,20% ao ano, mais correção pela inflação, que este ano deverá superar 11%, o que tornou os títulos mais atraentes. O Ministério da Economia também captou US$500 milhões em títulos com vencimento em 2012 (Boden 2012), que saíram com juros de 7,84%.