Título: A primeira baixa política
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Fonte: O Globo, 10/09/2005, O Mundo, p. 32

Criticado pela lenta resposta federal, Bush manda substituir coordenador da ajuda

NOVA ORLEANS e WASHINGTON

Uma semana depois de o presidente George W. Bush elogiar efusivamente seu trabalho na coordenação das operações de assistência às áreas devastadas pelo furacão Katrina, no Sul dos Estados Unidos, o diretor da Agência Federal de Gerenciamento de Emergências (Fema), Michael Brown, foi afastado da tarefa. A medida foi anunciada em meio às pesadas críticas que o governo vem recebendo pela lentidão da resposta federal a uma das maiores catástrofes naturais da História do país.

Brown foi substituído pelo vice-almirante Thad Allen, chefe de Estado-Maior da Guarda Costeira, que já coordenava as tarefas de resgate e ajuda na área de Nova Orleans, e voltará a Washington, onde continuará à frente da Fema. O secretário de Segurança Interna, Michael Chertoff, disse que Brown fez tudo o que pôde para ajudar as vítimas do Katrina, mas agora é necessário em Washington. Na semana passada, o presidente disse que o diretor da Fema estava fazendo ¿um trabalho tremendo¿.

Políticos e imprensa criticavam Brown

Há dias a imprensa, a oposição democrata e até alguns republicanos vinham concentrando fogo em Brown, acusando-o, entre outras coisas, de não ter a experiência necessária para ocupar o cargo. O jornal ¿The Washington Post¿ afirmou que cinco dos oito cargos mais importantes da Fema são preenchidos por funcionários com pouca experiência em lidar com desastres cuja nomeação se devia a laços com Bush. Brown é amigo de um ex-coordenador de campanha do presidente. Segundo o ¿Washington Post¿, à medida que os afilhados políticos assumiam cargos, os especialistas em desastre saíam da agência. Por sua vez, a revista ¿Time¿ acusou a Casa Branca de exagerar a experiência de Brown na área de emergências.

Ontem, Bush procurou traçar um paralelo entre o trabalho de reconstrução após o Katrina e as seqüelas do 11 de Setembro ao ressaltar que os EUA continuam sendo ¿uma nação em guerra¿.

¿ Nosso povo tem o espírito, os recursos e a decisão de superar qualquer desafio ¿ disse ele, que amanhã volta a visitar a Louisiana e o Mississippi.

Uma enquete do Centro de Pesquisas Pew indicou que a popularidade de Bush caiu a 40%, quatro pontos percentuais a menos que em julho e o mais baixo já registrado pela organização. Numa nova estimativa de prejuízos causados pelo furacão, já se fala que podem chegar a US$200 bilhões.

Em Nova Orleans, as autoridades anunciaram que a fase de busca e resgate de sobreviventes do furacão terminou e agora começa a de recuperação de corpos. A Fema contratou uma firma privada para coordenar o trabalho. O número oficial de mortos ainda é relativamente baixo em relação à dimensão da tragédia ¿ 118 na Louisiana e pouco mais de 300 no Alabama e no Mississippi ¿ e as autoridades começam a ter esperanças de que não se aproxime dos dez mil que chegaram a ser mencionados.

¿ Há algum ânimo após as buscas iniciais ¿ disse o coronel Terry Ebbert, diretor de Segurança Interna em Nova Orleans.

Policiais ainda percorrem as casas na cidade tentando convencer os moradores relutantes a partirem, mas o governo estadual assegurou que ninguém está sendo obrigado a sair contra a sua vontade.

Ophelia pode atingir Carolina do Sul

Em Nova Orleans, apenas 15 das 75 grandes bombas de drenagem estão em operação, tirando água das ruas da cidade, mas mesmo assim algumas áreas já começam a dar sinais de retorno à normalidade. Nos distritos de St. Tammany e Washington, a energia elétrica foi restabelecida, e vários moradores estão voltando para o distrito de St. Charles, no subúrbio. No entanto, 660 mil americanos ainda estão sem eletricidade nos três estados atingidos.

No Mar do Caribe, após arrefecer por um breve período, o furacão Ophelia voltou a ganhar força e pode atingir a Carolina do Sul no início da semana que vem.

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