Título: TCU COBRA A ABRADECAR
Autor: Claudio Nogueira
Fonte: O Globo, 10/09/2005, Esportes, p. 35

Tribunal exige quitação de multa e devolução de verba gasta indevidamente

OTribunal de Contas da União (TCU) confirmou ontem, através de seu corpo técnico, que a Associação Brasileira de Desporto de Cadeira de Rodas (Abradecar) está inadimplente perante o tribunal. A entidade organiza os Jogos Mundiais em Cadeiras de Rodas, de 18 a 25 de setembro, no Rio, e reivindica R$330 mil junto ao Comitê Paraolímpico Brasileiro (CPB) para custear a participação da delegação. Por causa da inadimplência, o CPB não libera o dinheiro. Sem a verba, os 80 atletas brasileiros ficarão fora dos Jogos, com 48 países.

Segundo o TCU, ¿o Presidente da Abradecar, Ciraldo de Oliveira Reis, teve suas contas julgadas irregulares pelo Acórdão 1967/2004 da Primeira Câmara/TCU (TC 014.585/2003-1)¿. Tal decisão multou o dirigente em R$10 mil e determinou a devolução de cerca de R$109 mil, já corrigidos.

Campeã se lamenta por não competir

O presidente da Abradecar diz que se pagar, estará confessando culpa.

¿ Se devolver, estou aceitando a condenação, mas não sou criminoso! Quebrem meu sigilo bancário e telefônico. Se depender de eu ir ao TCU (pagar), o Brasil está fora dos Jogos! ¿ declarou Ciraldo.

O problema começou em 2002. De acordo com o TCU houve irregularidades na Abradecar em despesas como pagamento de advogados; contratação de parentes (uma filha de Ciraldo); não-comprovação de despesas, entre outras coisas.

Ciraldo alega que uma decisão do TCU (acórdão 880/2005) autorizaria o CPB a repassar o dinheiro à sua entidade. Mas não é o que informa o tribunal. Embora esse acórdão tenha estabelecido isso, um recurso do CPB suspendeu a liberação do dinheiro. ¿Pelo regimento interno do TCU (artigo 285), esse tipo de recurso tem efeito suspensivo. Assim, há a suspensão dos efeitos da decisão até o pronunciamento em definitivo¿, esclareceu o órgão.

Com a crise, surgem denúncias.

¿ O CPB usou irregularmente R$2,15 milhões do esporte escolar. Num contrato de advogado (Antônio Arcuri Filho), a página do valor foi retirada, e em vez de R$45 mil, constavam R$61 mil. O presidente Vital recebeu o salário dobrado. O TCU determinou que devolvesse o dinheiro ¿ acusou Ciraldo.

O CPB também já foi objeto de seis processos no TCU. Vital disse que os R$2,15 milhões custearam a viagem da equipe paraolímpica a Atenas, mas foram repostos este ano. No caso do advogado, os encargos não levaram em conta o total. Sobre o salário em dobro, disse ter devolvido em parcelas. Vital se irritou ao ser questionado se, sendo cego, tem certeza da honestidade dos assessores:

¿ Qual o crime de ser cego? Se os assessores não fossem de total confiança, não trabalhariam comigo.

Outra denúncia é a de que os assessores do CPB, Renausto Amanajás e Ana Carla Thiago, teriam sido demitidos do Ministério do Esporte por Pelé, em 1997, por corrupção. Vital disse que nada foi provado.

Tricampeã paraolímpica e 14 vezes campeã mundial em arremessos de disco, peso e dardo, a atleta Suely Guimarães protestou:

¿ Vamos ser prejudicados por essa briga de dirigentes? Por quê o CPB ou o ministério não pagam as despesas (viagem, hospedagem, uniformes, taxas) sem a verba entrar na Abradecar?

Procurado nos últimos dois dias pelo GLOBO, o ministro dos Esportes, Agnelo Queiroz, não se pronunciou.