Título: Flávio Maluf é preso e chega algemado à PF
Autor: Ricardo Galhardo/Flávio Freire
Fonte: O Globo, 11/09/2005, O País, p. 12

Ex-prefeito e seu filho dividem a cela para onde são levadas pessoas acusadas de crimes do colarinho branco

SÃO PAULO. Oito horas depois de o ex-prefeito Paulo Maluf se entregar à Polícia Federal, o filho dele, Flávio Maluf, foi levado algemado ontem às 8h30m por agentes federais à Superintendência da PF, em São Paulo. Flávio foi preso ao chegar do interior de São Paulo num heliponto particular no bairro do Morumbi. Agora, pai e filho ocupam uma mesma cela de quatro metros quadrados para onde são levados os chamados criminosos do colarinho branco.

Assim como o pai, Flávio está sendo processado por evasão de divisas, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e corrupção passiva. Os dois foram presos sob a acusação de ocultação de provas e coação de testemunhas, no caso, o doleiro Vivaldo Alves, o Birigüi.

Ex-prefeito e filho foram submetidos a exames no IML

Os advogados de Paulo Maluf e de seu filho disseram ontem que só deverão entrar amanhã com pedido de hábeas-corpus no Tribunal Regional Federal, depois de terem acesso ao despacho da juíza da 2ª Vara Criminal Federal, Silvia Maria Rocha, que decretou as prisões. Maluf chegou ao prédio da PF, no bairro da Lapa, à 0h20m de sábado, acompanhado do seu advogado, José Roberto Leal, e de seguranças. Visivelmente abatido, carregando uma pequena valise, o ex-prefeito e ex-governador de São Paulo entrou caminhando pela porta da frente e foi recebido pelos delegados que negociaram sua rendição.

Ao contrário do sorriso estampado e das poses para os jornalistas, que horas antes da decretada sua prisão faziam plantão na porta de sua mansão de inverno em Campos do Jordão, interior paulista, Maluf chegou de madrugada na PF de cara fechada e calado. Sua intenção, conforme dissera aos repórteres, era retornar de Campos do Jordão para São Paulo apenas hoje, para participar da festa de aniversário de um de seus netos.

Por volta da 1h30m, Maluf foi levado ao Instituto Médico Legal (IML), onde passou por exames de corpo de delito. Na saída, Maluf ainda tentou forçar um sorriso. Ele também esboçou um cumprimento a dois funcionários na recepção do IML, mas não chegou sequer apertar as suas mãos, limitando-se a tocá-las com os dedos.

Enquanto isso, pessoas que aguardavam atendimento esboçaram um pequeno protesto. Um deles chegou a perguntar, quase aos gritos, onde estava José Genoino, ex-presidente do PT, para fazer companhia ao ex-prefeito na prisão. Maluf só conseguia dizer uma frase, com o seu sotaque inconfundível:

- Tudo bem com você?

No trajeto de volta à PF, espremido entre dois agentes federais no banco traseiro da Blaser, Maluf parecia assustado com o assédio dos repórteres que o acompanhavam e dos flashes dos fotógrafos e câmeras de TV. Na carceragem, Maluf recebeu colchonetes e travesseiros, levados à PF pelo seu advogado.

Às 9h, Roque Carneiro, funcionário que trabalha para Maluf há 38 anos, chegou à Superintendência da PF com uma mala de roupas. Ainda pela manhã, Flávio Maluf também foi ao IML para exame de corpo de delito e retornou em seguida à carceragem da PF.

Advogado afirma que Flávio Maluf foi humilhado

O advogado de Flávio, José Roberto Batochio, questionou a legalidade das prisões preventivas que, em sua opinião, só se justificariam em caso de criminosos violentos. Ele também queixou-se do sigilo que cercou o processo e que culminou com a decretação da prisão de Maluf e seu filho.

- Não dei entrada ainda com pedido de hábeas-corpus porque não tenho detalhes do processo que levou à juíza Sílvia Rocha a decretar as prisões - disse Batochio.

Para José Roberto Leal, que defende Maluf, a prisão de Flávio com o uso de algemas teve como finalidade exclusiva humilhá-lo.