Título: US$9 BI PARA ENTRAR NA HISTÓRIA
Autor: Ramona Ordoñez
Fonte: O Globo, 11/09/2005, Economia, p. 33

Novo pólo petroquímico do Rio receberá R$20,7 bi e vai empregar até 75 mil

O Estado do Rio de Janeiro vai receber o maior investimento já feito por um único projeto em toda sua história. A Petrobras, em parceria com empresas privadas, vai investir nada menos do que cerca de US$9 bilhões (R$20,7 bilhões) na construção de um pólo petroquímico, o quinto do país e o primeiro a usar o petróleo pesado produzido na Bacia de Campos como matéria-prima básica.

O diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, não esconde seu entusiasmo ao falar sobre o projeto. Afinal, segundo ele, com suas dimensões, o pólo vai dar um impulso sem precedentes à economia fluminense.

- Os investimentos equivalem à construção de três refinarias do porte da Reduc, ou a sete ou oito projetos de grande porto para o desenvolvimento da produção de petróleo na Bacia de Campos - disse.

O projeto, que está sendo detalhado no momento pelos técnicos da Petrobras, prevê a construção de uma refinaria petroquímica, que vai processar 150 mil barris diários de petróleo pesado, para produzir diversas matérias-primas para as indústrias petroquímicas, como eteno e propeno, entre outros. Para isso, será usada tecnologia inédita, desenvolvida pelo Cenpes, centro de pesquisas da Petrobras.

Nessa unidade, segundo o diretor da Petrobras, os investimentos são estimados em torno de US$3 bilhões. A Petrobras vai realizar o projeto em parceria com o grupo Ultra, além da BNDESPar.

'Projeto vai alavancar economia fluminense'

Simultaneamente às obras da refinaria, será iniciada a construção das unidades petroquímicas que vão usar as matérias-primas para produzir insumos para as indústrias de plástico, tais como polietilenos, polipropilenos e outros. A Petrobras está estudando a possibilidade de participar de alguns desses projetos associada às empresas privadas. De acordo com fontes técnicas do setor, várias companhias já manifestaram interesse em se instalar no pólo, entre elas a Suzano, o Grupo Unipar e a gigante multinacional Dow Química. Nessas unidades também estão previstos investimentos de US$3 bilhões.

Segundo dados de mercado, a demanda por petroquímicos cresce duas vezes acima do ritmo do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de todas as riquezas produzidas no país). Desse modo, a Petrobras estima que o novo pólo deverá atrair a instalação de inúmeras indústrias de plásticos. A estatal estima que, nessas indústrias, deverão ser investidos outros US$3 bilhões.

Em novembro, a Petrobras pretende concluir a segunda fase do projeto. Na ocasião, serão fixadas as participações acionárias dos sócios, e também será concluída a escolha do local para a instalação do pólo. Pelas estimativas do diretor da Petrobras, o próximo ano será gasto no detalhamento do projeto e na obtenção das licenças ambientais. As obras estão previstas para começar em 2007 e serem concluídas entre 2010 e 2011.

Nesses quatro a cinco anos de obras, a Petrobras e o governo do Estado do Rio estão prevendo a geração de cerca de 75 mil empregos diretos e indiretos. Já na fase de operação, a estimativa é de que serão gerados cerca de 15 mil empregos diretos e outros 30 mil indiretos.

- É um projeto de dimensões tão grandes que vai alavancar a economia do Rio como nunca se viu - destacou Costa.

O secretário de Energia, Indústria Naval e Petróleo do Rio, Wagner Victer, ressalta que qualquer que seja a sede escolhida para o pólo, haverá um grande impacto para a economia fluminense.

- O efeito multiplicador na economia será fantástico. Não só durante a construção, mas depois, com a vinda de inúmeras empresas prestadoras de serviços, fornecedoras de materiais e equipamentos, entre outros - afirmou Victer.

A escolha da sede do projeto está entre o município de Itaguaí e o Norte Fluminense. Segundo o diretor da estatal, existem pontos positivos e negativos em ambos os casos. Costa disse que os principais pontos levados em conta para a decisão são custos e questões ambientais.

Ele explicou que os estudos de logística indicam que a produção do pólo petroquímico será escoada por ferrovia, porto e rodovia. Nesse caso, Itaguaí leva vantagem, por ter o Porto de Sepetiba. A cidade, no entanto, enfrenta restrições ambientais. O secretário Victer disse que Itaguaí tem problemas ecológicos, porque fica próxima ao reservatório do Guandu e há risco de contaminação da água da principal fonte de abastecimento do Rio. Além disso, um grande número de projetos siderúrgicos serão instalados no local. O Norte Fluminense, por sua vez, não apresenta problemas ambientais, argumentou Victer. Lá poderia ser construído um porto sem custos elevados.

Logística ainda é um desafio para o estado

O projeto do novo pólo petroquímico vai mudar a economia do Rio, que precisa enfrentar um desafio. Com o grande fluxo de produtos previsto, o estado deve preparar uma logística adequada, alertam especialistas. O diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, explicou que os estudos em andamento indicam que o escoamento das matérias-primas e produtos do pólo deve ser feito por porto, ferrovia e rodovias.

O secretário de Energia, Indústria Naval e Petróleo do Rio, Wagner Victer, disse que, na área de transporte rodoviário, a rodovia BR-101, que será privatizada, já estará recuperada até a entrada em operação do projeto.

Já o problema portuário não preocupa Victer. O governo estadual está dando incentivos fiscais, como o adiamento do pagamento do ICMS, tanto para o caso de o projeto ser implantado em Itaguaí, quanto no Norte Fluminense.

Segundo o secretário, se o projeto ficar no Norte Fluminense, a construção de um porto na região custará aproximadamente US$150 milhões. (R.O.)

INCLUI QUADRO: SAIBA MAIS SOBRE O MEGAPROJETO [O NOVO PÓLO PETROQUÍMICO NO ESTADO, OS PRINCIPAIS PROJETOS DO NOVO PÓLO, GERAÇÃO DE EMPREGO]