Título: PESQUISA MOSTRA DIVÓRCIO ENTRE EUA E AL
Autor: Renato Galeno
Fonte: O Globo, 11/09/2005, O Mundo, p. 42

Quatro anos depois do 11/9, política externa americana é criticada por opinião pública de Brasil, Argentina, Chile e Uruguai

Quatro anos após os atentados terroristas do 11 de Setembro, que motivaram uma onda de solidariedade internacional para os Estados Unidos, o divórcio entre a opinião pública sul-americana e as políticas americanas voltou a ser patente. Uma pesquisa realizada nas capitais de Brasil, Argentina, Chile e Uruguai indica que a maioria das populações destes países discorda da política externa americana, não acredita que Washington promova a paz mundial e admira mais o país por sua produção cinematográfica do que por sua democracia.

A pesquisa, organizada por Claudio Fuentes e David Álvarez, foi feita pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso) do Chile no fim de julho e demonstra uma clara antipatia pelo presidente George W. Bush. A grande maioria dos entrevistados (89%) sabe quem ele é (reconhecendo seu nome numa lista com nomes de ex-presidentes dos EUA). Mas a opinião sobre Bush é desfavorável. Quase dois terços dos entrevistados argentinos (64%) e uruguaios (63%) não gostam de Bush, número que cai para 47% em Brasília e 40% em Santiago. Na direção contrária, 19% dos chilenos entrevistados apreciam Bush, e 17% dos brasileiros, números que diminuem para 11% em Buenos Aires e 8% em Montevidéu.

Mais do que isso, a pesquisa mostrou que, nos quatro países, a imagem dos EUA na região seria melhor caso Bush não estivesse na Casa Branca.

A democracia americana - o principal produto de exportação de Bush pelo que se pode entender de seu discurso nos fóruns internacionais - não chega a empolgar a opinião pública sul-americana: 48,8% dos entrevistados não admiram a democracia dos EUA, contra 46,8% que a respeitam. Os filmes do país têm maior apelo, sendo admirados por 60,9% dos pesquisados.

Lula é mais popular na Argentina do que em Brasília

A tentativa do governo Bush de desviar o foco da atenção mundial para o terrorismo também não parece ter chegado à população sul-americana. O terrorismo não é considerado um problema sério pela maioria dos entrevistados, sendo mais elevado no país que sofreu atentados mais recentemente: entre os argentinos, 44% consideram o terrorismo grave, contra 32% dos brasileiros, 23% dos chilenos e 8% dos uruguaios. Na região como um todo, os problemas considerados mais sérios são pobreza, delinqüência e desemprego, nesta ordem e com margens superiores a 95% nos quatro países. A corrupção é considerada muito grave por 99% dos brasileiros e 98% dos argentinos, mas o número cai entre uruguaios (91%) e chilenos (88%).

Além disso, 64,4% dos entrevistados dispensam a ajuda americana para o combate ao narcotráfico e ao terrorismo. Estes números talvez sejam explicados pelo fato, relatado na pesquisa, de que uma expressiva maioria acredita que os EUA são um país imperialista (com o número variando de 83% entre argentinos a 70% de brasileiros).

No campo regional, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva é mais bem avaliado em Buenos Aires e Montevidéu do que em Brasília. O presidente chileno, Ricardo Lagos, é o mais bem avaliado de todos, derrotando Lula, o segundo em aprovação.