Título: INSEGURO, DEPUTADO RECORRE A ASSESSORES
Autor: Adriana Vasconcelos, Diana Fernandes e Regina Alva
Fonte: O Globo, 12/09/2005, O País, p. 3

Na entrevista, critica a imprensa e admite que recebeu doações não-declaradas

BRASÍLIA. O presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), chegou pontualmente ao meio-dia num auditório da Câmara para a entrevista coletiva. Cumpriu o rito estabelecido por assessores, lendo um texto de pouco mais de três páginas intitulado ¿A mentira não pode prevalecer¿. Mas ao responder às perguntas, Severino deu declarações preconceituosas e revelou insegurança ao tratar de questões mais complexas. E fez muitas bravatas.

Sentado entre o advogado José Eduardo Alckmin e o assessor jurídico da Presidência da Câmara, Marcos Vasconcelos, o deputado não se acanhou em pedir ajuda aos dois para explicações técnicas e jurídicas. Respondeu a cada uma das perguntas sempre olhando para a sua chefe de gabinete, Iara Alencar, que o orientava com gestos quando devia ser firme. Aos jornalistas se dirigiu por vezes com agressividade, acusando-os de estar a serviço da oposição ou atuando como advogados do empresário Sebastião Buani, seu acusador.

Inúmeras vezes repetiu que não tinha medo de ninguém. Em muitas ocasiões fazia ameaça implícita aos colegas de Parlamento:

¿ Tenho certeza de que hoje, depois dessa entrevista, estarei bem com todos os líderes ¿ afirmou. ¿ Que os líderes lembrem que amanhã eles podem cair na mesma cilada que eu.

Novamente referindo-se aos colegas da Câmara, afirmou:

¿ Confio nos líderes, porque são homens de bem e vão saber separar o joio do trigo. E eu sou o trigo.

Na tentativa de convencer a todos de que não vai renunciar nem pedir licença do cargo, por doença ou não, Severino foi firme:

¿ Não irei fugir nem adoecer, porque Deus está do meu lado. Eu vou viver até os 100 anos.

Para o deputado Chico Alencar (PT-RJ), surgiu na entrevista o verdadeiro Severino.

¿ Ele foi um Severino pleno: clientelista e preconceituoso. Teve coragem de negar todas as acusações, encarnando a morte e a vida severina ¿ disse, fazendo um trocadilho com o título da obra de João Cabral de Melo Neto.

Demonstrando otimismo, Severino deu sinais de não ter qualquer preocupação com o impacto das denúncias sobre seu futuro político. Disse acreditar que a carreira de mais de 40 anos de vida pública não ficará comprometida. Quando indagado sobre o baixo custo de sua última campanha, na qual declarou ter gasto apenas R$63 mil, disse ter muitos serviços prestados a Pernambuco, o que sempre lhe ajudou. Indiretamente, admitiu que recebeu doações não-declaradas para sua campanha.

¿ Sou candidato pobre. Muitos fazem despesas (com minha campanha) sem dizer que fizeram. Tenho certeza que voltarei com votação consagradora. A família Cavalcanti consegue arrumar voto bem baratinho ¿ contou Severino.