Título: Severino cobra apoio do governo mas Planalto mantém distância
Autor: Diana Fernandes
Fonte: O Globo, 12/09/2005, O País, p. 4

Na avaliação de Lula, problema deve ficar restrito aos partidos políticos

BRASÍLIA. O presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), cobra apoio do governo e da base governista na Câmara a sua versão de que não recebeu propina do empresário Sebastião Buani, seu acusador, que explora um restaurante na Casa. Para Severino, se seu partido apóia o governo, ele não tem dúvida alguma de que o governo o apoiará neste processo. Mas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que embarca hoje para viagem de uma semana ao exterior (Guatemala e Estados Unidos), não se manifestou sobre o assunto. A informação do Planalto era de que estava mantida a orientação anterior do presidente de que o governo não deve interferir nesta questão.

Na noite de sábado, Severino telefonou ao ministro da Coordenação Política, Jaques Wagner, pedindo um encontro na manhã de ontem, antes da entrevista coletiva. Queria antecipar ao governo o que falaria à imprensa e levou peças de sua defesa. Severino disse que não faria nada para sensibilizar Lula e que ele deveria fazer o que for mais conveniente, mas deu seu recado.

¿ Se o governo defende seriedade, ficará do meu lado. Não estou enlameado. Naturalmente que eu conto com o governo. Meu partido é da base do governo, se estamos com o governo, eu não tenho dúvida alguma (do apoio) ¿ afirmou o presidente da Câmara na entrevista, depois de se negar a dar detalhes de seu encontro com Wagner:

¿ Não tenho obrigação de dizer o que conversei com o ministro Jaques Wagner.

Petistas acham que apoio pode até ser prejudicial

O ministro também não quis falar sobre o encontro. Por meio de assessores informou que a posição do governo era ontem a mesma: que o caso seja solucionado pela Câmara. O governo não vai interferir, mas, salientou o ministro, não quer que haja pré-julgamentos, tanto no caso de Severino como no dos outros parlamentares acusados pelas CPIs dos Correios e do Mensalão.

A avaliação feita pelo presidente Lula na reunião de coordenação, sexta-feira, é de que o governo não tem como defender o presidente da Câmara das acusações e que esta é uma questão dos partidos. Petistas mais realistas dizem no Congresso que qualquer tentativa do governo de preservar Severino pode até prejudicá-lo, já que atualmente o Palácio do Planalto não tem força na Câmara e sua base está totalmente desestruturada.

Severino teria recebido ligações de Jaques Wagner

Sobre a possibilidade de acordos para evitar um processo de cassação na Câmara, Severino foi categórico:

¿ Não sou homem de fazer cambalacho ou acordo para me beneficiar. Isso não existe nem vai existir.

Apesar do silêncio do Palácio do Planalto, ao fim da entrevista Severino insistia em afirmar que conta, ou contará, com o apoio do governo. Mais uma vez perguntado, já fora dos microfones, se estava certo do apoio, ele foi lacônico:

¿ Eu estou feliz. Quem não recebe apoio não é feliz.

Segundo a assessoria de Severino, enquanto ele esteve em Nova York, semana passada, teria recebido vários telefonemas do ministro Jaques Wagner. Fato não confirmado pela assessoria do ministro.

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