Título: Sem alternativa
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Fonte: O Globo, 12/09/2005, Opinião, p. 6

OBrasil vem correndo atrás da utopia no que se refere à saúde. Todos os brasileiros têm direito pela lei a qualquer serviço de atendimento, mas na prática tal premissa teria um custo que nem mesmo os países mais ricos do mundo hoje se dispõem a arcar.

Como nação com renda ainda insuficiente para atender completamente a suas necessidades básicas, o Brasil precisa ser ultra-seletivo na escolha das prioridades, e no caso do atendimento à saúde, o setor público deve ter isso bem definido devido aos pesados gastos para se manter uma rede ambulatorial e hospitalar em boas condições em todo o território nacional.

Os Estados Unidos optaram por não ter uma rede de atendimento basicamente pública. O serviço americano de saúde funciona como um grande seguro, universalizado, para o qual o Estado cobre essencialmente as contribuições dos mais pobres e dos idosos. No Brasil, a sociedade se movimentou por conta própria, sem apoio institucional e quem pode se socorre junto aos planos de saúde.

Há uma demanda crescente por esse tipo de cobertura já que ninguém pode dormir confiando na possibilidade de um dia precisar ser atendido pelo serviço público. Como os planos de saúde se transformaram verdadeiramente em substitutos, não gratuitos, do serviço público, a atividade passou a ser regulada, o que é justificável, pois não se trata de um ambiente de concorrência perfeita.

Mas o poder público costuma exigir de terceiros o que não faz na sua própria casa. Sob pretexto de proteger o usuário, o poder público foi além da conta e criou exigências que serviram apenas para onerar o sistema privado, tornando o seu custo incompatível com a renda de muitos que o utilizam. Essa pessoas ficaram sem alternativa: têm dificuldades para manter seus planos de saúde, mas sabem que não podem contar com o serviço público. O que fazer? Certamente a solução não passa pela inviabilidade dos planos de saúde.