Título: ELEIÇÃO NO JAPÃO FORTALECE PRIMEIRO-MINISTRO
Autor: Gilberto Scofiled Jr.
Fonte: O Globo, 12/09/2005, O Mundo, p. 20

Projeções apontam para vitória expressiva do partido de Koizumi, com 296 cadeiras na Câmara dos Deputados

PEQUIM. O Partido Democrático Liberal (PDL) do primeiro-ministro Junichiro Koizumi obteve uma vitória expressiva nas eleições de ontem para a Câmara dos Deputados do Japão, segundo projeções da imprensa japonesa. De acordo com a agência de notícias Kyodo, o partido tem 296 cadeiras garantidas, quando precisava de 241 para conseguir a maioria. Somadas às cadeiras conquistadas pelo partido aliado New Komeito, deverão ser 327, de um total de 480.

Uma vitória significaria ainda que a maior plataforma de Koizumi, a privatização do Correio do Japão, um gigante com mais de US$1,9 trilhão em ativos, deve ocorrer sem sobressaltos, para alegria dos reformistas liberais e desespero dos sindicatos.

Foi justamente uma derrota de Koizumi em sua tentativa anterior de botar o Correio do Japão à venda, mês passado, que fez o premier dissolver o Parlamento e convocar novas eleições, ameaçando renunciar caso seu partido perdesse. Com o resultado, o PDL de Koizumi, que praticamente há 50 anos dirige o país, em meio a escândalos de corrupção, gastos equivocados e nepotismo, volta reforçado ao poder.

A votação fica ainda mais expressiva se estiver correto o levantamento sobre o comparecimento às urnas no Japão feito pela agência de notícias Associated Press. Segundo a agência, mais de 60% dos 103,4 milhões de eleitores aptos a votar compareceram às urnas. O recorde anterior tinha sido em 2003, quando 59,9% dos eleitores depositaram seus votos no sistema eleitoral híbrido japonês: 300 cadeiras são escolhidas de modo direto e 180 são ocupadas por indicação dos partidos, numa votação proporcional.

Campanha rica em ferramentas de marketing

Até o último minuto da votação, encerrada às 20h (hora local), Koizumi e o ex-ministro do Comércio Katsuya Okada, 52 anos, líder do principal partido de oposição, o Partido Democrático do Japão, brigavam por votos de maneira feroz.

¿ A privatização dos correios vai dar mais eficiência a uma instituição congelada no tempo e ajudará a injetar ânimo na economia ¿ prometia o primeiro-ministro, que usou todas as ferramentas do marketing político à sua disposição, de celebridades pop até o apoio de jovens empreendedores da internet japonesa.

¿ O senhor Koizumi acha que a vida ficará rosa se o serviço postal for vendido, mas ninguém pode levar isso a sério ¿ dizia Okada, um político tão conservador que seu apelido entre os políticos é ¿talibã¿.

Mas o apelo de Koizumi parece ter sido levado a sério pela população japonesa, cada vez menos tolerante com a ainda enorme burocracia japonesa e seus privilégios. Mas, se há quem ache a idéia moderna, há quem tema uma deterioração dos serviços. O Correio do Japão funciona também como banco e seguradora, especialmente em lugarejos remotos do interior do país que não possuem demanda suficiente para atrair os grandes bancos comerciais. Para se ter uma idéia da escala desta instituição, basta saber que o valor de depósitos e fundos nos correios equivale praticamente à soma dos depósitos dos quatro principais bancos comerciais: Mizuho, Sumitomo-Mitsui, Mitsubishi e UFJ.