Título: CORTE NOS JUROS
Autor:
Fonte: O Globo, 13/09/2005, Opinião, p. 6

Apolítica de juros altos tem sido muito discutida, com prós e contras à sua adoção. Mas efetivamente a pressão inflacionária foi neutralizada a ponto de vários indicadores de preços estarem registrando deflação. As instituições financeiras consultadas semanalmente pelo Banco Central já projetam variação de 5,2% em 2005 para o IPCA ¿ o índice que serve de parâmetro oficial para as metas de inflação ¿ bem próximo do objetivo que as autoridades declaram perseguir (5,1%).

Com a inflação sob controle, chegou o momento de se pensar mais nos outros fatores necessários ao crescimento sustentado da economia brasileira. A dívida pública interna foi estancada em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) ¿ em pouco acima dos 50% ¿ em decorrência dos persistentes superávits primários nas finanças governamentais. No entanto, esse esforço significou também a manutenção de uma carga tributária elevada, que asfixia as atividades produtivas menos capitalizadas. Investimentos em infra-estrutura que dependem do Estado tiveram de ser sacrificados, criando gargalos que podem prejudicar as exportações, o grande catalisador de todo o processo de revitalização da economia do país.

Como já há consenso de que existe espaço para redução das taxas de juros básicas sem pôr em risco o alcance das metas de inflação, o Comitê de Política Monetária (Copom) poderá dar partida a essa trajetória de declínio amanhã, ao fim da sua reunião mensal. O corte dos juros trará um alívio fiscal muito expressivo e facilitará a almejada diminuição da dívida interna, além de estimular setores produtivos que continuam deprimidos e ao largo da recuperação da economia.