Título: Rodrigues renuncia para fugir da cassação
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 13/09/2005, O País, p. 8

Deputado é o segundo envolvido no escândalo do mensalão a sair e diz que não vai disputar as próximas eleições

BRASÍLIA.O ex-bispo Carlos Rodrigues (PL-RJ) renunciou ao seu mandato de deputado, decisão formalizada ontem na Mesa da Câmara, depois de consultar colegas da Casa e constatar que seria cassado. Ele preferiu sair de cena discretamente, com uma carta de renúncia enviada à Mesa, em vez de ir à tribuna, como fez o presidente do PL, Valdemar Costa Neto (SP), que renunciou mês passado. Rodrigues é o segundo do escândalo do mensalão a renunciar ao mandato para evitar a cassação e a perda dos direitos políticos.

Rodrigues, ex-bispo da Igreja Universal, disse que se antecipou porque decidiu abandonar a vida pública e não disputar as próximas eleições.

¿ Eu não vou esperar para ser cassado, decidi renunciar. Também não vou disputar eleições. Estou nas mãos de Deus. Isso tudo dói no meu corpo, mas está sendo bom para minha alma. Deus sabe o que faz.

Rodrigues: caixa dois era para gastos de campanha

Rodrigues admitiu que errou ao receber R$400 mil das contas de Marcos Valério, mas alegou que era para cobrir gastos de campanha do PL no Rio de Janeiro. Ele disse ser justo pagar por esse erro, mas ponderou que isso é diferente de se submeter a um processo político que, na sua avaliação, é marcado pela hipocrisia.

¿ É muita hipocrisia. O Aloizio Mercadante (senador pelo PT de SP) fala em sair do PT mas fez uma das campanhas mais caras do país. A Heloísa Helena (senadora do PSol) fica esbravejando na CPI, mas de onde veio o dinheiro da campanha dela? ¿ perguntou.

O que deixa o ex-deputado contrariado é quando os acusadores pretendem associar os saques na conta da agência da SMP&B no Banco Rural a atos de corrupção. Mesmo reconhecendo o erro, alega que, como presidente do PL fluminense, era sua obrigação arranjar recursos para os candidatos do partido.

¿ Deus sabe que não usei esse dinheiro para enriquecer. Como presidente de partido tinha responsabilidades. Numa campanha ninguém quer saber de onde veio o dinheiro, o candidato quer saber é de gasolina e de santinho ¿ disse Rodrigues.

Deputado está afastado da seita desde caso Waldomiro

Apesar de ter recebido a sugestão de ocupar a tribuna para explicar sua renúncia, decidiu não fazê-lo. Explicou que não teria ânimo para cobrar isonomia de tratamento com outros políticos que também se elegeram com caixa dois mas que não estão sendo investigados ou punidos. Diz que o processo é injusto e que se sente aliviado por aqueles que conseguirem se safar ¿ mesmo sendo adversários políticos.

Eleito pelo PL com o nome de Bispo Rodrigues, o deputado argumentou que não teria como enfrentar o processo, diante do preconceito que diz sofrer pelo fato de ser evangélico e ter sido pastor da Igreja Universal do Reino de Deus, do bispo Edir Macedo. Afastado da seita em 2004, por causa do escândalo envolvendo o ex-assessor da Casa Civil Waldomiro Diniz, Rodrigues afirmou que não teria como se defender em um processo de quebra de decoro.