Título: A TROPA QUE FAZ A DEFESA DO PRESIDENTE DA CÂMARA PARA CONTER `CRISE SEVERINA¿
Autor: Isabel Braga e Maria Lima
Fonte: O Globo, 13/09/2005, O País, p. 9

Assessores e deputados do baixo clero revezam-se em visitas e articulações

BRASÍLIA. Desde que estourou o escândalo que o pôs no centro da crise política, o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), conta com o apoio de assessores e alguns deputados do baixo clero (de menor expressão política). No domingo e ontem políticos revezaram-se em visitas a Severino. Principalmente ontem, quando o presidente da Câmara optou por ficar em casa o dia inteiro.

Além do advogado José Eduardo Alckmin, integram o gabinete da ¿crise severina¿, como já dizem alguns parlamentares, o assessor jurídico da Presidência da Câmara, Marcos Vasconcelos; a sua chefe de gabinete, a jornalista Iara Alencar, fiel funcionária de muitos anos; além dos filhos José Maurício e Ana Catarina. Na tropa de choque de deputados defensores de Severino estão Ciro Nogueira (PP-PI) ¿- companheiro de primeira hora que não pode muito assumir essa função, já que é corregedor-geral da Casa e responsável por um possível pedido de cassação do mandato de Severino ¿ ; João Caldas (PL-AL); Feu Rosa (PP-ES) e o líder do PP, José Janene (PR).

Severino demonstra tranqüilidade

A todos que estiveram ontem com Severino Cavalcanti, o presidente demonstrou tranqüilidade em relação às denúncias feitas pelo empresário Sebastião Buani, garantiu que não irá renunciar e que espera ter apoio da base aliada para enfrentar a crise que na sua visão não passa de disputa política eleitoral feita pela oposição. A cobrança ao apoio do governo foi explícita.

¿ O presidente está bem e preparado para cumprir tudo. A oposição tem que cumprir seu papel, do quanto pior melhor, mas o governo tem que se ajeitar ¿ disse o deputado Feu Rosa (PP-ES). ¿ Essa crise que atinge o presidente da Câmara decorre da falta de articulação e juízo da base aliada. Há uma semana não se fala no impeachment do Lula.

Segundo Feu Rosa, que esteve domingo e ontem com Severino, o presidente não ficou preocupado com a divulgação dos extratos bancários de Buani e quer ter apenas o direito de se defender.

Além dos assessores e de Feu Rosa, Severino recebeu a visita de deputados como Nelson Trad (PMDB-MS), Wladimir Costa (PMDB-PA). Trad conta que os dois são amigos há várias legislaturas.

¿ Ele estava com ar de cansaço, mas elétrico, falando sem parar. Está muito determinado e disse que não renuncia ¿ descreveu o deputado.

Sem papas na língua, Wladimir Costa disse que cobrou de Severino a garantia de inocência. Perguntou se podia acreditar nele e avisou que, se surgirem provas, ele ficaria sozinho.

¿ Ele me respondeu: fique tranqüilo. Não vou trair sua confiança ¿ contou Costa.

No domingo, Caldas esteve com Severino em sua residência oficial e presenciou uma cena inusitada: Maria Christina Mendes Caldeira, ex-mulher do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, participava de uma festa em uma casa ao lado e foi ao local jogar pizzas em cima dos carros. Caldas nega que seja da tropa de choque de Severino:

¿ Eu quero que tudo seja apurado, mas não quero o linchamento político do presidente Severino. Se em quatro dias ele for triturado, sem provas, qual a segurança jurídica que teremos no país?