Título: REGALIAS E ALGEMAS SERÃO INVESTIGADOS
Autor: Soraya Aggege, Adauri Antunes Barbosa e Flávio Fre
Fonte: O Globo, 13/09/2005, O País, p. 10

Ministério Público também decidiu apurar atuação da PF nas prisões

BRASÍLIA e SÃO PAULO. O diretor da Polícia Federal (PF), Paulo Lacerda, determinou ontem a abertura de duas sindicâncias para apurar supostas irregularidades nas prisões de Paulo Maluf, ex-prefeito de São Paulo, e de Flávio Maluf, filho dele, no sábado. Os encarregados da investigação deverão apurar a concessão de supostos privilégios a Maluf na carceragem da PF em São Paulo. Lacerda também mandou investigar se houve abusos durante a prisão de Flávio Maluf. Advogados do filho do ex-prefeito reclamaram da decisão da polícia de algemar Flávio e permitir a filmagem de boa parte da operação.

A cúpula PF não acredita que o ex-prefeito tenha recebido tratamento privilegiado. Maluf está na mesma carceragem onde ficaram detidos o juiz federal João Carlos da Rocha Mattos, em 2003, e, mais recentemente, os acusados de envolvimento com supostas fraudes fiscais da Daslu, a mais famosa loja de artigos de luxo do país.

¿ Quando um dos irmãos da dona da Daslu (Eliane Tranchesi) estava preso lá disseram que a polícia botou uma pessoa de bem numa masmorra. Agora dizem que o Maluf está num hotel de luxo. As opiniões mudam de acordo com as conveniências ¿ afirmou um assessor de Lacerda.

Cenas da prisão foram divulgadas pela TV Globo no sábado. Para auxiliares de Lacerda, os policiais agiram corretamente ao algemar Flávio Maluf, mesmo que ele tenha se entregado. Mas estes mesmos assessores consideram discutível a liberação das imagens de Flávio Maluf algemado. Uma portaria baixada recentemente por Lacerda recomenda que as operações da PF sejam executadas com discrição.

O Ministério Público Federal (MFP) também decidiu investigar a atuação da PF nas prisões. O procurador Roberto Diana deve ser nomeado para a investigação. Segundo a Lei Complementar 75/93, cabe ao MPF o controle externo da polícia.

Flávio se apresentou em hora marcada, diz advogado

Até o fim da tarde de ontem, a PF em São Paulo não tinha sido avisada da determinação de Lacerda, mas mudou de comportamento. De acordo com a assessoria da PF em São Paulo, quando a determinação do diretor-geral chegar, será nomeado um funcionário para comandar o procedimento administrativo que funcionará como uma sindicância interna.

O advogado de Flávio Maluf, José Roberto Batochio, considerou abuso a Polícia Federal colocar algema em seu cliente numa cena ¿armada¿ para a televisão. Flávio foi detido em sua fazenda no interior de São Paulo, viajou de helicóptero em companhia de dois agentes federais e apenas foi algemado ao chegar num heliporto da cidade, onde um jornalista estaria disfarçado de policial.

¿ Entendo que houve um abuso porque tínhamos combinado com as autoridades policiais que ele (Flávio) ia se apresentar no horário que o delegado marcou. Eu o trouxe ao local. E aí, um dos policiais disse que tinha que colocar as algemas para uma tomada geral ¿ disse o advogado, em tom irônico.