Título: PF agora corta visita e telefonemas para os Maluf
Autor: Soraya Aggege, Adauri Antunes Barbosa e Flávio Fre
Fonte: O Globo, 13/09/2005, O País, p. 10

Mordomias do fim de semana foram suspensas. Paulo e Flávio Maluf tiveram que se alimentar com quentinhas

SÃO PAULO. A mordomia dos Maluf na prisão da Polícia Federal em São Paulo foi suspensa. Ontem, pelo menos, Paulo e Flávio Maluf tiveram que comer a quentinha servida na prisão e só receberam visitas de advogados. Também teriam perdido o acesso aos telefones. Maluf foi preso acusado de coação de testemunhas.

Embora no fim de semana pai e filho tenham recebido várias visitas e farta comida, ontem o motorista Lázaro Gonçalves teve de voltar para a casa dos Maluf com o almoço que tinha ido entregar em duas sacolas. Um agente da PF, identificado como Carlos, não autorizou a entrada da comida. Segundo ele, só liberaria a entrada dos alimentos com determinação judicial.

Os Maluf tiveram que se contentar com o cardápio da PF: arroz, feijão, salada (alface, cenoura, beterraba e tomate), carne ou frango e um legume.

A mulher de Flávio, Jaqueline Maluf, que por ser advogada pôde visitar ontem à tarde o marido e o sogro, afirmou que eles estavam abatidos.

¿ Eles estão caminhando com Deus. Abatidos, mas confiando na Justiça ¿ disse ela.

De acordo com advogados de Maluf e de seu filho, depois de decretada a prisão, eles negociaram que os dois se entregariam espontaneamente para evitar o constrangimento. Mesmo assim, o delegado Protógenes Queiroz, que comandava a operação, mandou algemar Flávio diante uma câmera de televisão. No fim de semana, agentes da PF teriam liberado ao ex-prefeito o uso irregular do telefone da instituição e permitido a entrada de visitas. O ex-prefeito estaria detido numa cela sem grades e mobiliada com cama, poltrona e cadeira.

¿ Eles não têm qualquer privilégio que os outros presos não tenham ¿ disse um assessor da PF. Ele afirmou que Paulo e Flávio estão entre os 87 presos da custódia e em celas separadas.

Hábeas-corpus: pedido será hoje

Os advogados José Roberto Leal e José Roberto Batochio afirmaram ontem que pretendem pedir hábeas-corpus para Paulo e Flávio Maluf ao Tribunal Regional Federal (TRF) apenas hoje. Dois pedidos, de amigos dos Maluf, foram negados pelo TRF, entre ontem e domingo.

Segundo Batochio, o pedido de Flávio terá ao menos três alegações: ele não oferece perigo à sociedade, apresentou-se espontaneamente e é um empresário idôneo. Além disso, Batochio tentará derrubar a tese da juíza da 2ª Vara Criminal, Sílvia Maria Rocha, que decretou a prisão dos Maluf na sexta-feira, de que seu cliente tentou coagir testemunha:

¿ Para que haja coação ou suborno, é preciso haver testemunha. E não há! O Birigüi (o doleiro Vivaldo Alves) não é testemunha, é réu. Não existe no direito a figura de cooptação ou suborno de réu.

Batochio disse que só entrará com pedido de hábeas-corpus hoje, quatro dias depois da prisão, porque a defesa teve dificuldade para obter informações sobre o despacho da juíza do TRF. Leal, advogado de Maluf, também reclamou que só conseguiu ter acesso a decisão da Justiça ontem. Ele só entraria com recurso hoje.

Além dos hábeas-corpus, os advogados podem também tentar uma reconsideração da juíza na primeira instância. Até ontem à noite, a Justiça Federal não tinha protocolado recursos.

A 2ª Vara Criminal Federal marcou para os próximos dias 21 e 22 os depoimentos de Paulo e Flávio Maluf, do doleiro Birigüi e do ex-diretor da Mendes Júnior Simeão Damasceno.