Título: PALESTINOS QUEIMAM SINAGOGAS EM GAZA
Autor:
Fonte: O Globo, 13/09/2005, O Mundo, p. 30

Multidão celebra saída de tropas israelenses, invade assentamentos e toma praias antes restritas a colonos

CIDADE DE GAZA. Milhares de palestinos invadiram ontem os assentamentos judaicos na Faixa de Gaza após a retirada das tropas israelenses que pôs fim a 38 anos de ocupação do território. Multidões em júbilo cravaram bandeiras palestinas nos escombros das casas e puseram fogo em sinagogas, numa ação que Israel classificou de bárbara. A saída dos últimos soldados israelenses ocorreu de madrugada de forma coordenada com as forças de segurança palestinas, que ocuparam o vácuo deixado pelos invasores.

¿ A missão foi completada ¿ disse o brigadeiro Aviv Kochavi, de Israel.

Cinco jovens morrem afogados no mar forte

Na Cidade de Gaza, o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, sintetizou o estado de espírito da população.

¿ Este é um dia de felicidade e alegria que o povo palestino não vive há um século ¿ comemorou.

O presidente, no entanto, advertiu o governo de Israel para não tentar trocar a retirada da Faixa de Gaza pela incorporação de espaços da Cisjordânia, onde vivem 245 mil colonos judeus em 116 assentamentos em meio a 2,4 milhões de árabes.

¿ Se isso ocorrer, nem a pacificação de Gaza terá futuro e vamos de novo cair num ciclo de violência e terrorismo ¿ alertou Abbas, que se disse seguro de controlar totalmente a Faixa de Gaza até as eleições parlamentares de 25 de janeiro. ¿ Agora que a retirada israelense foi completada, poderei lidar melhor com o problema.

Abbas acredita que com o movimento radical Hamas participando das eleições como partido, seus militantes logo deixarão de lado as armas para dedicar-se à luta política. Pelas reações dos militantes do Hamas, no entanto, eles parecem dar ainda mais crédito à luta armada do que às negociações de paz.

¿ Quatro anos da nossa resistência fizeram mais do que dez anos de negociações ¿ disse um militante mascarado do grupo, que ontem jurou continuar a luta contra Israel.

A celebração palestina foi ensombrecida pela morte de cinco jovens afogados no mar forte nas praias dos antigos assentamentos judaicos ao qual não estavam acostumados, pois eram restritas aos colonos. Em Israel, um assessor do premier Ariel Sharon condenou o incêndio das sinagogas nas colônias.

¿ Pôr fogo nelas não é uma forma de criar um novo ambiente para um futuro de esperança ¿ disse Dore Gold.

Os palestinos tinham acordado inicialmente com o Exército de Israel que as sinagogas seriam demolidas antes do fim da retirada, mas, sob pressão dos grupos religiosos, o governo voltou atrás e as deixou de pé, pedindo que fossem preservadas.

¿ As sinagogas queimadas são um pano de fundo apropriado para a rendição do Exército de Israel e sua vergonhosa saída sob fogo ¿ criticou Eran Sternberg, ex-porta-voz dos colonos judeus em Gaza.

Palestinos saqueiam o que sobrou dos assentamentos

Muitos palestinos aproveitaram para saquear o que sobrou dos assentamentos, levando embora azulejos, telhas, material de alumínio, ferramentas, eletrodomésticos velhos e até banheiras deixados para trás pelos colonos.

A retirada israelense não deixou a ANP no controle total de Gaza. Alegando preocupações de segurança, Israel mantém o controle das fronteiras do território, de seu espaço aéreo e das águas costeiras. A União Européia ofereceu-se para tomar conta dos postos de fronteira.

www.oglobo.com.br/mundo