Título: SCHROEDER AVANÇA E ACIRRA DISPUTA ELEITORAL
Autor: Graça Magalhães Ruether
Fonte: O Globo, 13/09/2005, O Mundo, p. 30

Chanceler ganha seis pontos e analistas já não arriscam prognóstico para domingo

BERLIM. Às vésperas das eleições do próximo domingo, o chanceler federal Gerhard Schroeder conseguiu recuperar terreno perdido por seu Partido Social-Democrata (SPD), passando para 35% na preferência do eleitorado. O crescimento de seis pontos em comparação a agosto foi, segundo especialistas, conseqüência do debate televisivo com a candidata democrata-cristã (CDU) Angela Merkel, no último dia 4, assistido por 21 milhões de pessoas, um recorde para um programa político.

Schroeder, de 61 anos, chamado também de o ¿chanceler dos meios de comunicação¿ em razão de sua familiaridade com o vídeo, foi apontado pela maioria dos telespectadores como mais simpático e mais competente do que a candidata conservadora, uma física de 51 anos da antiga Alemanha Oriental (RDA) que fez em apenas 15 anos de reunificação uma carreira fulminante na CDU, mas que tem a fama de ter ¿o charme de uma geladeira¿.

Chanceler criticou proposta de imposto único

No último debate, transmitido ontem à noite, o chanceler voltou a tocar no tema mais sensível da campanha da CDU: a criação de um imposto único de 25% para ricos e pobres e o corte de quase todos os subsídios fiscais.

¿ O modelo Kirschhof e o medo que desperta na população foi o nosso melhor ajudante ¿ disse Fritz Kuhn, chefe da campanha dos verdes, referindo-se ao provável ministro da Economia de Merkel.

Schroeder usou de forma quase populista o tradicional medo dos alemães de mudanças e tentou brilhar também como grande estadista. Na quinta-feira da semana passada, ele recebeu em Berlim a visita do presidente russo, Vladimir Putin. Os dois assinaram um acordo para a construção de um gasoduto para o fornecimento de gás da Rússia para a Alemanha.

¿ Precisamos nos tornar independentes do petróleo ¿ disse ele, pouco antes da visita de Putin, em pronunciamento ao Parlamento alemão.

Os especialistas da CDU estão em clima de nervosismo. A chapa CDU/CSU (União Democrata-Cristã e União Social-Cristã)/FDP, que tinha vitoria assegurada até semana passada, perdeu a maioria segundo as últimas pesquisas, que dão à coligação 42%, ao FDP 6%, aos verdes 8% e ao Partido da Esquerda, uma aliança de comunistas da antiga RDA com os dissidentes de Schroeder no SPD, 7%.

Schroeder descarta aliança com Lafontaine

O líder social-democrata já excluiu a possibilidade de uma aliança com o seu arquiinimigo, Oskar Lafontaine, do Partido da Esquerda, e vem apostando no crescimento da candidatura de seu partido e dos verdes. O programa final da campanha foi ampliado em dois comícios. No próximo sábado, Schroeder tentará conquistar a simpatia dos últimos indecisos num comício em Bonn, a antiga capital do país, onde assumiu o governo no final de 1998.

Já Angela Merkel encerrará sua campanha em Frankfurt, a cidade dos grandes bancos e das grandes empresas, cujas análises prevêem um novo boom econômico se houver uma mudança política em Berlim.

Segundo Manfred Güllner, diretor do Instituto Forsa, nenhum analista arrisca dizer quem ganhará no domingo, sobretudo porque cerca de 15% dos eleitores estão indecisos. Para completar o quadro de incerteza, com a morte de uma candidata de Dresden ao Parlamento, as eleições na cidade foram adiadas e seus 219 mil eleitores só votarão semanas depois. Se houver empate, a população da cidade vai decidir a disputa, como já fez em 2002, ano da enchente que ajudou Schroeder a se reeleger.

Para os analistas, o crescimento do chanceler é quase um milagre. Schroeder resolveu antecipar as eleições em um ano, depois que os partidos do governo (SPD e verdes) perderam o último estado em que ainda estavam no poder, Renânia do Norte-Vestfália, em maio.

¿ Na época ele parecia estar no, fim mas mostrou que é capaz de reagir bem quando está sob pressão ¿ disse o cientista politico Franz Walter, da Universidade de Goettingen.