Título: Buani anuncia que está com cheque de propina: 'É um tiro na cabeça'
Autor: Jaílton de Carvalho
Fonte: O Globo, 14/09/2005, O País, p. 4

Advogado diz que empresário divulgará documento contra Severino hoje

BRASÍLIA. De posse da cópia de um cheque de R$7.500 emitido em 2003, o empresário Sebastião Buani anunciou que apresentará às 11h de hoje a prova definitiva do suposto pagamento de mesada ao presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE). Segundo um dos advogados de Buani, o cheque teria sido sacado por um funcionário do gabinete de Severino no período em que o deputado era o primeiro-secretário da Câmara. Na quinta-feira da semana passada, Buani disse que pagou aproximadamente R$128 mil em propinas para Severino entre 2002 e 2003 em troca da prorrogação do contrato da rede de restaurante Fiorella com a Câmara.

- Ele está com o cheque e está tranqüilo. A verdade dele está confirmada - disse o advogado Sebastião Coelho depois de conversar por telefone com Buani.

Caso o cheque não seja apresentado, a Polícia Federal deverá pedir à Justiça a quebra do sigilo bancário e telefônico de Buani. O delegado Sérgio Menezes, que comanda as investigações do suposto pagamento de propina, admitiu também a possibilidade de pedir ao Supremo Tribunal Federal (STF) a quebra do sigilo bancário de Severino. As investigações deverão ser transferidas para o STF até 4 de outubro, quando acaba o prazo de 30 dias da PF para concluir a parte inicial das apurações.

"Aqui não tem tirono pé, tem tiro na cabeça"

No início da manhã, o empresário prometeu pegar, numa agência do Bradesco na Asa Sul, a cópia do cheque que teria usado para pagar uma das parcelas da suposta propina a Severino. Em seguida, ele divulgaria o resultado da busca. Mas, por volta das 15h, Buani desapareceu e deixou de atender as ligações de Sebastião Coelho e até mesmo da mulher, Diana Buani. Coelho chegou até a pedir a ajuda da PF para localizar o cliente. Mas, depois de quatro horas de suspense, o advogado fez um contato com o cliente e declarou que disse que todo o mistério já estava resolvido.

- Ele está com o cheque em mãos e disse que se recolheu apenas porque tem ciência da grande responsabilidade que ocasionará para este país. Aqui não tem tiro no pé, tem tiro na cabeça (de Severino) - disse o advogado.

Ontem de manhã, o Departamento de Patrimônio da Câmara determinou o fechamento do Fiorella, do 10º andar do anexo IV da Câmara, o restaurante que está no centro da confusão entre Buani e Severino. O argumento era de que o contrato do restaurante fora rescindido e que Buani não entrara com recurso contra a medida. Mas, horas depois, o departamento constatou o equívoco da decisão e teve que autorizar a reabertura do restaurante.

Defesa de Severino contesta Buani

Contrato teria sido assinado uma semana antes do pedido de propina

BRASÍLIA. O advogado José Eduardo Alckmin, advogado do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), entregou ontem à Polícia Federal dois pacotes com documentos. Entre eles estava cópia do contrato que renovou a concessão do restaurante Fiorella, de propriedade de Sebastião Buani, na Câmara. De acordo com Alckmin, esse documento foi assinado em 23 de janeiro de 2003. Isso derrubaria a versão de Buani, segundo a qual Severino teria exigido propina do empresário no dia 30 em troca da renovação do direito de explorar o serviço de alimentação na Casa.

- Como o Severino pode ter pedido dinheiro no dia 30, se o contrato já estava assinado desde o dia 23? A versão do Buani ruiu. Tem muita gente que não gosta do Severino, até por causa das declarações polêmicas dele. Mas estão se aproveitando de um fato absolutamento falso para tentar tirá-lo da presidência da Câmara - disse

O consultor jurídico da Câmara, Marcos Vasconcelos, acompanhou o advogado na entrega dos documentos. Ele afirmou que o cheque anunciado por Buani, que comprovaria o pagamento da suposta propina, não existe. Um dos motoristas de Severino, Paulo Sabino Sobrinho, encontrou-se com a equipe responsável pela defesa do deputado ontem, na frente do prédio da Polícia Federal em Brasília. Ele negou que tivesse sacado um cheque para pagamento de propina para Severino, conforme alegou Buani.

Em 2003, quando pode ter havido o pagamento de propina, o motorista não estaria trabalhando com o deputado.

Legenda da foto: BUANI NO RESTAURANTE, que foi fechado e depois reaberto ontem pelo Departamento de Patrimônio da Câmara