Título: Seguradora ganhou contratos após ajudar o PT
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Fonte: O Globo, 14/09/2005, O País, p. 9

Desconhecida, Interbrazil fez negócios de R$4,6 bilhões com estatais depois de financiar petistas em Goiás

A Interbrazil, uma seguradora inexpressiva até o PT chegar ao poder, está sendo investigada por ganhar seguros bilionários de estatais do setor elétrico após ter contribuído para as campanhas eleitorais de petistas em Goiás, inclusive a do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em reportagem exibida ontem pelo "Jornal Nacional", da TV Globo, fornecedores revelaram que a autorização para o pagamento dessas despesas era feita por Adhemar Palocci, irmão do ministro da Fazenda, Antônio Palocci, que trabalha na Eletrobras.

O presidente da Interbrazil, André Marques da Silva, admitiu a ajuda aos petistas em troca de informação para fechar contratos. Jura que não era nada fraudado e se diz vítima de perseguição porque teria quebrado o monopólio das grandes seguradoras:

- A gente procurou estar inserido ali para que pudesse realmente obter as informações. É segredo comercial, realmente, sair à frente para poder buscar nosso mercado, como outras seguradoras também - declarou à TV Globo.

Seguradora fechou contratos de R$4,6 bilhões

A seguradora, já falida, é investigada pela Polícia Federal, pelo Ministério Público de dois estados e pelo Ministério Público Federal. No governo Lula, foi seguradora das usinas nucleares de Angra I e Angra II (cobertura de R$2,5 bilhões), da Companhia Energética do Paraná (R$1,2 bilhão) e da Companhia Energética de Goiás (R$1 bilhão).

Registrada na Junta Comercial de São Paulo em 2002, a Interbrazil lucrou R$24 milhões no primeiro ano, saltando para R$35 milhões em 2003 e R$62 milhões em 2004, ano em que o Instituto de Resseguros do Brasil (IRB) acusou a Interbrazil de garantir um contrato usando documentos falsos e de emitir apólices irregulares para a Companhia Energética de Goiás.

Órgão responsável por fiscalizar as seguradoras, a Superintendência de Seguros Privados (Susep) decretou a liquidação da Interbrazil no mês passado, mais de um ano e meio depois de receber o primeiro alerta de que a empresa teria falsificado documentos.

Cláudio Marques da Silva, dono de gráfica e irmão de André, confessa, sem saber que estava sendo gravado, que fez impressão de material para o PT local e ganhou para isso R$1 milhão. Ele disse que o irmão pagava as despesas:

- É porque era o dono da empresa lá, que era o contato da política, entendeu? O cara que pagou a conta. Eles conheciam era ele. Para eles, era ele que estava pagando e realmente foi ele que pagou. Aí todo mundo falava assim: quero material do André.

Fornecedor: Adhemar Palocci decidia pagamentos

Outro fornecedor confirma a ajuda de André. Wellington José Jorge, dono do trio elétrico usado na campanha do candidato do PT ao governo goiano, reclamou de uma dívida da campanha de 2002 até hoje não quitada pelo dono da Interbrazil. Segundo ele, quem autorizava o pagamento era Adhemar Palocci:

- Paloção lá, irmão do outro Palocci. Qual irmão do outro Palocci? Aqui em Goiânia tinha um Palocci, irmão daquele outro.

De fato, uma mensagem colhida pelo Ministério Público comprova a dívida. Nela, Cláudio Marques pede ao irmão André, dono da seguradora, que pague R$40 mil a Wellington, em duas parcelas. Só uma, de R$18 mil, foi paga.

Ex-secretário de Finanças da Prefeitura de Goiânia, Adhemar Palocci coordenou campanhas do PT no estado. Wellington diz que, até hoje, ele decide quais dívidas de campanha serão pagas. Adhemar foi denunciado no Ministério Público de Goiás por um ex-companheiro de partido e de governo, Hélio Moreira Borges.

CPI dos Bingos aprova convocação de chefe de gabinete da Presidência

Gilberto Carvalho é acusado por irmão de Celso Daniel de fazer caixa 2 para PT

BRASÍLIA. Embora tenha poupado o ministro Antonio Palocci, a CPI dos Bingos no Senado vai centrar fogo no PT. A comissão aprovou ontem a convocação de Gilberto Carvalho, chefe de gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, citado pelo oftamologista João Francisco Daniel, irmão do prefeito de Santo André, Celso Daniel, assassinado em 2002, como suspeito de integrar um esquema de caixa dois do partido em São Paulo naquele ano.

O depoimento de Carvalho está marcado para amanhã às 11h30m. A sessão poderá ser fechada. Segundo João Francisco, Carvalho, que à época era chefe de gabinete de Celso Daniel, admitiu que recebia dinheiro de propina do prefeito e o transportava em um Corsa preto para São Paulo, onde entregava ao então presidente do PT, José Dirceu. Gilberto Carvalho já rebateu as acusações e disse que a denúncia era infundada.

A CPI, criada para investigar o financiamento de campanhas eleitorais com dinheiro do jogo, decidiu convocar a psicóloga Roseana Moraes Garcia, viúva do prefeito de Campinas Antonio da Costa Santos, o Toninho do PT. Toninho foi assassinado em setembro de 2001. Roseana luta para reabrir o caso.

O governo tentou a todo custo impedir a ida de Carvalho à CPI. Mas não conseguiu transformar o depoimento numa inquirição por escrito.

O governo deu o troco e conseguiu aprovar a quebra de sigilo telefônico, bancário e fiscal de João Francisco Daniel. O objetivo é encontrar algo que desqualifique seu depoimento.

O Palácio do Planalto recebeu com irritação a decisão da CPI de convocar Carvalho. Para o Planalto, os parlamentares não estão respeitando as regras de que CPIs têm fatos determinados a apurar. Para um ministro, a convocação de Gilberto Carvalho foi uma tentativa de desgastar o presidente Lula, já que ele é seu assessor direto. Gilberto Carvalho foi informado logo que saiu a decisão. Apesar da reação, o Planalto considerou positivo o fato de a CPI dos Bingos ter desistido, pelo menos por enquanto, de convocar o ministro da Fazenda, Antonio Palocci.