Título: PETRÓLEO RECUA POR MEDO DE QUEDA NA DEMANDA
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Fonte: O Globo, 14/09/2005, Economia, p. 25

Analistas vêem disparada dos preços e impacto do Katrina como fatores de desaceleração da economia global

NOVA YORK, LONDRES e PARIS. Os preços do petróleo recuaram ontem, devido ao temor nos mercados de que a recente disparada nas cotações do produto já esteja afetando a economia global e possa reduzir a demanda por combustível nos Estados Unidos. A queda só não foi maior porque a produção no Golfo do México ainda não voltou ao normal.

Em Nova York, o barril do tipo leve americano recuou 0,36%, para US$63,11. Há duas semanas, a cotação do produto atingira os US$70. Em Londres, o barril do tipo Brent caiu 0,30%, para US$61,61.

"A recente disparada nos preços pode ser suficiente para dar início à desaceleração da demanda e para reduzir os preços nos próximos anos", afirmou o banco Credit Suisse First Boston, em relatório.

Nos últimos dois anos, os preços têm avançado, enquanto os países tentam aumentar a produção e a capacidade de refino para satisfazer a demanda dos consumidores dos EUA e da Ásia. Os preços do barril do tipo cru leve americano acumulam alta de 46% no ano.

França e Grã-Bretanha reclamam dos aumentos

Segundo analistas, o impacto econômico do furacão Katrina e a disparada dos preços do petróleo podem segurar o crescimento da demanda pelo produto. O governo americano disse ontem que só no fim deste mês a produção do Golfo do México atingirá 90% de sua capacidade.

A União Européia (UE), onde os preços na bomba acompanham as oscilações do petróleo, tenta evitar protestos dos consumidores devido à alta dos combustíveis em meio a temores de desabastecimento. Na UE, os impostos respondem por cerca de 70% do valor dos combustíveis. Ainda assim, os governos estão pondo as petrolíferas no centro das atenções: semana passada, Total e BP prometeram reduzir os preços nas bombas.

Apesar disso, ontem na Grã-Bretanha, diversos postos informavam aos consumidores que não tinham mais gasolina. Caminhoneiros convocaram um protesto para hoje, prometendo bloquear estradas de acesso às refinarias, para protestar contra os preços dos combustíveis. Na Irlanda, os motoristas de táxi pediram ao governo permissão para adicionar 50 centavos de euro por corrida para compensar a alta dos combustíveis.

O presidente francês, Jacques Chirac, pediu novas reduções de preços da Total e da BP. Mas a BP disse que isso não é possível, porque sua margem de lucro já está abaixo de um centavo de euro por litro.

Um protesto de fazendeiros franceses na segunda-feira levou o primeiro-ministro, Dominique de Villepin, a anunciar ontem uma isenção fiscal de 30 milhões de euros para o setor. Ele também prometeu conversar com pescadores.

O ministro de Finanças britânico, Gordon Brown, fez um apelo para que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) aumente sua produção. O cartel se reúne no próximo dia 19.