Título: Recolhido em casa, pedido de 72 horas para decidir
Autor: Maria Lima/Isabel Braga
Fonte: O Globo, 15/09/2005, O País, p. 5

Severino deixa de presidir sessão de cassação de Roberto Jefferson e adia o anúncio da provável renúncia

BRASÍLIA. Mesmo depois da divulgação do cheque com o endosso de sua secretária, o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), ainda relutava em formalizar sua renúncia ao cargo. Aceitou apenas não presidir a polêmica sessão de ontem e pediu um prazo de até 72 horas para anunciar sua decisão. Para assessores e parlamentares mais próximos, no entanto, a renúncia é uma questão de horas. Resta saber se Severino irá abrir mão apenas da presidência ou também do mandato de deputado para evitar a perda dos direitos políticos por oito anos.

Durante todo o dia ontem, Severino ficou em casa. De manhã, manteve-se isolado com parentes e assessores mais próximos nos aposentos privados. Segundo sua assessoria, não acompanhou pela TV a entrevista em que o empresário Sebastião Buani apresentou uma cópia do cheque.

"Nem Jesus conseguiria justificar o cheque"

Desde o fim da tarde de anteontem, a assessoria de Severino já sabia que era de Gabriela Kênia Martins o nome no cheque de R$7.500. Antes das 8h de ontem, Gabriela Kênia foi para a residência oficial e só saiu pouco antes das 15h, depois de ser intimada pela Polícia Federal para prestar depoimento.

Por volta das 13h30m de ontem, líderes da base aliada e o quarto-secretário da Câmara, João Caldas (PL-AL), chegaram à residência oficial. Segundo Caldas, não houve um pedido ostensivo a Severino para que renunciasse, mas uma conversa clara sobre sua difícil situação a partir da divulgação do cheque.

- O presidente pediu entre 48 e 72 horas para decidir. Está querendo enfrentar, mas o nosso aconselhamento é diferente - disse Caldas. - Nem que Jesus baixasse aqui conseguiria justificar esse cheque.

Os líderes deixaram o encontro com a impressão de que a renúncia não aconteceria ontem. O líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), que acompanhou os demais líderes aliados, disse que a situação de Severino piorou muito, mas ressaltou que a renúncia é uma decisão que só ele poderá tomar:

- Ele está pensando em uma atitude que não fira a honra dele, mas que seja o melhor para o país. É evidente que houve aquecimento da temperatura política. Mas na renúncia não há sócio, é uma decisão que só ele pode tomar.

Em caso de renúncia do cargo ou do mandato, será realizada nova eleição num prazo de cinco sessões, mas se Severino se afastar temporariamente, o vice-presidente José Thomaz Nonô (PFL-AL) assume o cargo durante o afastamento, hipótese que não é aceita pelo governo.

Pressão da família pela renúncia também é grande

Os líderes comentaram que Severino estava muito abatido e calado, mais ouvindo que falando. Até mesmo o líder do PP, deputado José Janene (PR), partido de Severino, admitiu que a situação política complicou-se.

- Estamos analisando a situação. Juridicamente é satisfatória, mas é preciso analisar também do ponto de vista político - disse Janene.

Aos líderes, os assessores de Severino alegaram que o cheque apresentado por Sebastião Buani era referente a um dinheiro para pagar despesas de campanha de um filho de Severino morto em 2002. Afirmaram ainda que os R$690 escritos no verso do cheque seriam referentes a juros do empréstimo. A pressão familiar para que ele renuncie também era grande. Ontem, os três filhos (Ana, Catarina e José Maurício) e a mulher, dona Amélia, permaneceram ao lado do presidente da Câmara durante todo o tempo. Há grande preocupação com a saúde de Severino, que é diabético.

"Severino não tem mais condições de presidir a Câmara, tem que se licenciar e responder a processo"

RICARDO IZAR (PTB-SP)

Presidente do Conselho de Ética

"A alma já foi, agora só ficou o corpo. Pode até ter condição legal, mas não tem condição moral de presidir"

JOSÉ CARLOS ALELUIA (PFL-BA)

Líder da minoria

"Qualquer brasileiro com vergonha na cara renunciaria não só à presidência, mas também ao mandato"

BETO ALBUQUERQUE (PSB-RS)

Vice-líder do governo

"Se há prova, Severino simplesmente nãotem condição de permanecer"

RICARDO BERZOINI (PT-SP)

Secretário-geral do PT

"Ele pediu entre 48 e 72 horas. Nem que Jesus baixasse aqui conseguiria justificar esse cheque"

JOÃO CALDAS (PL-AL)

Quarto-secretário da Câmara

"Juridicamente a situação é satisfatória, mas é preciso analisar também do pontode vista político"

JOSÉ JANENE (PP-PR)

Líder da bancada

"Se não renunciar, ele tem de ser cassado o mais breve possível para resgatar a dignidade da Câmara"

TARSO GENRO

Presidente do PT

"Ele está pensando. Na renúncia não há sócio, é uma decisão que só ele (Severino) pode tomar"

ARLINDO CHINAGLIA (PT-SP)

Líder do Governo