Título: Secretária repete a versão de que cheque era para filho já morto
Autor: Jaílton de Carvalho
Fonte: O Globo, 15/09/2005, O País, p. 8

Gabriela Kênia depôs depois de se reunir com Severino

BRASÍLIA. Quatro dias depois de negar que tenha recebido qualquer encomenda de Sebastião Augusto Buani, dono da rede de restaurantes Fiorella, Gabriela Kênia Martins, secretária do presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti (PP-PE), confirmou ontem, em depoimento à Polícia Federal, que, em julho de 2002, sacou um cheque no valor de R$7.500 assinado pelo empresário.

Buani disse que usou o cheque para pagar a Severino parte de uma suposta mesada de R$10 mil. Gabriela Kênia é secretária do presidente da Câmara desde que o deputado ocupava a primeira-secretaria da Casa.

Mas, ao longo do depoimento na PF, Gabriela tentou livrar o chefe de qualquer responsabilidade no recebimento do suposto suborno. A secretária disse que o cheque era uma doação de Buani à campanha eleitoral de Severino Cavalcanti Júnior, o filho do presidente da Câmara que morreu num acidente de carro em agosto de 2002.

A doação, no entanto, não aparece na contabilidade da campanha eleitoral de Severino Júnior. Um dos responsáveis pelas investigações do chamado mensalinho de Severino considerou pífias as explicações dadas pela secretária do presidente da Câmara.

- Não tem qualquer lógica - disse.

Buani nega que dinheiro era para campanha

Sebastião Coelho, um dos advogados de Buani, negou que seu cliente tenha feito contribuições de campanha ao filho de Severino ou a qualquer outro político. Ele alega que o empresário sempre esteve em situação financeira apertada. O advogado considerou deplorável a versão apresentada por Gabriela. Antes de prestar depoimento à Polícia Federal, a secretária passou horas na residência oficial do presidente da Câmara.

- Acho muito triste usar um filho morto para uma história como essa - observou Coelho.

Gabriela chegou à sede da PF numa caminhonete de cabine dupla da frota da Câmara. Ela estava acompanhada de José Eduardo Alckmim, advogado de Severino, e de Marcos César Vasconcelos, assessor jurídico da presidência da Câmara. No grupo de apoio à secretária ainda estavam o motorista da caminhonete e um segurança.

Para escapar dos repórteres de plantão no local, o grupo tentou entrar pela garagem. Mas, como não tinha autorização para usar a passagem reservada, o grupo foi barrado na entrada da garagem do prédio principal da PF.

Em depoimento ao delegado Sérgio Menezes na sexta-feira passada, Gabriela negou "peremptoriamente os fatos atribuídos ao deputado Severino Cavalcanti concernentes aos pagamentos do mensalinho realizados por Sebastião Buani". No interrogatório de ontem, ela mudou a versão e disse que recebeu o cheque de Buani, mas alegou que o dinheiro seria para o filho do presidente da Câmara. Para a polícia, a secretária mentiu duas vezes e, agora, terá dificuldades de se livrar das acusações de envolvimento com o suposto esquema do mensalinho.

Legenda da foto: GABRIELA KÊNIA Martins ao chegar à PF para depor, acompanhada por assessores de Severino