Título: CLAQUE, APLAUSOS E XINGAMENTOS ANTES DA DESPEDIDA
Autor: Maria Lima/Evandro Éboli/Alan Gripp
Fonte: O Globo, 15/09/2005, O País, p. 10

BRASÍLIA. Embalado por uma claque barulhenta de integrantes da Juventude Petebista de vários estados do país, o deputado Roberto Jefferson se esmerou para dar um show em sua reaparição ontem na tribuna da Câmara.

Criou-se uma grande expectativa em relação ao seu discurso. Até se esperava que ele aparecesse no plenário carregando uma mala recheada com os R$4 milhões recebidos do PT e que até hoje ninguém sabe ao certo que destino tomou. Jefferson decepcionou quem aguardava novas revelações, mas agradou aos que admiram sua polêmica oratória.

O ponto alto do discurso, em tom de despedida, foram as críticas ao governo, quando foi aplaudido pela claque e por parlamentares de oposição. Mas quando Jefferson dizia que o presidente Lula era o promotor do maior escândalo de corrupção que conheceu em sua carreira política, ouviu de um parlamentar que ele também era ladrão.

Por volta das 16h, Jefferson entrou no plenário escoltado pela mulher, Ana Lúcia, e pela filha Cristiane Brasil, vereadora na Câmara Municipal do Rio. Enquanto o relator, Jairo Carneiro (PFL-BA), lia seu parecer, Jefferson circulava à vontade pelo plenário, dando e recebendo abraços, beijos, afagos e tapinhas nas costas.

O chamego maior era com a deputada Laura Carneiro (PFL-RJ), que foi ao seu encontro, atendendo a um gesto do deputado com o dedo, que lhe dizia: "Vem cá, vem cá, Laurinha". Os dois se abraçaram longa e afetuosamente. Desses abraços e beijos participaram parlamentares de PFL, PTB, PMDB e outros partidos.

Depois de votar, uma retirada estratégica

Deputado deixou o plenário sem esperar resultado da votação

BRASÍLIA. O tom acusador do deputado Roberto Jefferson na tribuna foi seguido de uma retirada estratégica: depois de votar, ele deixou o plenário, sem esperar pelo resultado da votação que lhe tirou o mandato. A sessão foi muito tumultuada. Quando Jefferson fez duros ataques ao governo e a claque se manifestou, o presidente em exercício da Câmara, José Thomaz Nonô (PFL-AL), ameaçou mandar retirá-los das galerias.

- A presidência determina à segurança que suba. Na próxima intervenção, evacua (a galeria).

Nonô foi generoso com o tempo de discurso de Jefferson. Os 30 minutos regimentais viraram quase 50.

- Vou prorrogar por mais dez minutos. A Casa quer ouvi-lo - disse Nonô, que ainda deu mais sete minutos, voltando depois a ser rigoroso com o tempo dos parlamentares que ocuparam a tribuna.

No início do discurso, à beira das lágrimas

No início do discurso, Jefferson se emocionou e teve que conter as lágrimas. Começou citando as mulheres que, segundo ele, foram importantes em sua vida e fizeram-no chegar aonde chegou. Jefferson começou pela avó e ficou com a voz embargada quando mencionou a mãe. Outro momento de emoção foi quando falou da esposa, Ana Lúcia, e das filhas, Cristiane e Fabiana. Cristiane, com uma máquina digital, registrou as manifestações de apoio ao pai. O deputado citou também suas duas professoras de canto:

- Elas são responsáveis pelas manhãs mais felizes que venho vivendo nesse último ano de minha vida. Elas me ensinaram que cantar é uma doação que a gente faz da alma.

"Não almocei, preciso comer alguma coisa"

Logo após seu discurso, ele deixou o plenário rumo à liderança do PTB reclamando que estava com fome.

- Estou com hipoglicemia, não almocei, preciso comer alguma coisa.

Jefferson acompanhou grande parte da votação no gabinete da liderança do PTB. Lá, recebeu uma romaria de deputados, amigos, parentes e militantes do partido, que prestaram solidariedade. Boa parte deles estava vestida com camisetas com os dizeres "Eu acredito em Roberto Jefferson". Segundo integrantes da juventude do PTB, 200 delas foram confeccionadas pelo gabinete do próprio deputado.

Ansioso, segundo relato de colegas, deixou de lado a dieta e devorou salgadinhos enquanto acompanhava pela TV Câmara os discursos no plenário. Vez em quando, lia as notícias em tempo real dos principais jornais na internet e dos blogs de política.

Ao deixar o gabinete de volta ao plenário para votar, Jefferson, com cara de poucos amigos, deu o tom do que esperava acontecer:

- Não fiz discurso para ter voto - disse, antes de deixar o Congresso. Ele acompanhou a votação pela TV, em seu apartamento.

Resignado, confidenciou a amigos que não havia perdido a esperança.

- O clima ainda é de expectativa. Ainda pode mudar - dizia Luiz Antônio Fleury Filho (PTB-SP). Não mudou.