Título: PLANALTO REAGE A ATAQUES DE JEFFERSON CONTRA O GOVERNO
Autor: Cristiane Jungblut
Fonte: O Globo, 15/09/2005, O País, p. 11

BRASÍLIA. O ministro das Relações Institucionais, Jaques Wagner, reagiu aos ataques contra o governo desferidos pelo ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) antes de sua cassação.

Jaques Wagner, que exerce a tarefa de articulador político do Palácio do Planalto, disse que Jefferson usou artifícios para ganhar o apoio da platéia e mentiu ao afirmar que a corrupção está no Planalto. Jaques Wagner acompanhou o discurso de Jefferson pela internet. O presidente em exercício, José Alencar, segundo parlamentares que estiveram com ele, acompanhou a sessão pela televisão. Alencar ocupa o cargo interinamente porque o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está em Nova York.

- Jefferson usou da sua experiência de Tribunal do Júri e de artifícios para jogar com a platéia. O problema é que o réu tem o direito de mentir. Ele não falou os fatos e sim o que era mais conveniente para a defesa dele - disse Jaques Wagner.

Depois de articular para que o PT não assinasse a representação contra o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), o Planalto mudou o discurso depois do aparecimento do cheque de Sebastião Buani, e passou a defender a saída de Severino do comando da Câmara.

O ministro das Relações Institucionais, Jaques Wagner, ligou para Severino e reafirmou que o governo era contra prejulgamentos, mas ponderou que a situação havia se complicado.

- O aparecimento do cheque realmente deixou a situação muito mais complicada - disse Jaques Wagner.

No Planalto, o sentimento é de que a situação de Severino é insustentável, e há uma preocupação com a sucessão na Câmara. Lula já manifestou que espera que o PT consiga articular um nome de consenso.

Líder petebista surpreendeu-se com a cassação

'Nós, do PTB, vamos dormir entristecidos. E eles preocupados'

BRASÍLIA. O líder do PTB na Câmara, José Múcio, (PE), disse que se surpreendeu com o resultado da sessão que cassou seu correligionário Roberto Jefferson, principalmente com o número altíssimo de parlamentares em plenário, 488 votantes.

- Lamento o resultado, porque todas as pesquisas de opinião apontavam para que ele fosse absolvido. A Câmara perdeu um grande deputado, que prestou um grande serviço ao país - disse Múcio, que pela manhã estava confiante na absolvição.

Para o líder do PTB, o resultado demonstra que a Câmara não terá condescendência com os demais parlamentares que responderão a processos para perda de mandato.

- Nós, do PTB, vamos dormir entristecidos. E eles dormirão preocupados - disse.

"O Parlamento não é tão puro como ele afirmou"

O deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) disse que Jefferson procurou concentrar seus ataques ao Palácio do Planalto e tentou preservar a Câmara, para ver se conseguia manter o mandato.

- É uma incoerência. Foi ele mesmo quem começou ao denunciar meses, atrás, deputados que receberam dinheiro de um esquema de corrupção. O Parlamento não é tão puro como ele afirmou nesse discurso - disse Gabeira.

Um dos que discursaram em defesa de Roberto Jefferson, Luiz Antônio Fleury (PTB-SP), lamentou o resultado.

- Não tínhamos outro caminho, ele se auto-incriminou. A Câmara passa pelo pior momento de sua história e para recuperarmos parte da credibilidade perdida não poderíamos dar outro resultado nessa votação - disse o líder do PSB na Câmara, Renato Casagrande.

O líder do PSDB, Alberto Goldman (SP), classificou como decisão madura da Câmara a cassação de Jefferson.

- Os cabeças desse processo serão inevitavelmente cassados. Vai ser impossível cassar todos os nomes que aparecerem. Nós vamos fazer a limpeza grossa. A fina, quem vai fazer é o povo na eleição - disse Goldman.

O líder do PT na Câmara, Henrique Fontana, reagiu aos ataques de Jefferson contra o governo e o presidente Lula. Para Fontana, o petebista fez um discurso de baixa credibilidade. Entre outros adjetivos, Jefferson chamou Lula de preguiçoso.

- A história da vida dele fala mais que esse seu último discurso na Câmara. Usou seu estilo teatral para atacar o presidente, mas foi agressivo e lhe faltou educação - disse Fontana.