Título: PP de Severino e Maluf é um partido moribundo
Autor: Lydia Medeiros
Fonte: O Globo, 15/09/2005, O País, p. 12

BRASÍLIA. Foi um dia difícil para a história do PP, hoje um partido moribundo. De manhã, o representante do partido que chegou ao terceiro posto da República, o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PE), era alvejado por um cheque de R$7.500 e perdia as condições de ficar no cargo. Pouco depois, o presidente da sigla, Pedro Corrêa (PE), se sentava no banco dos réus da CPI do Mensalão, acusado de receber recursos ilegais do PT. O líder da bancada, José Janene (PR), está na lista dos 18 deputados que podem ter o mandato cassado.

Os dissabores não se resumem aos escândalos do mensalão e do mensalinho. Ontem à tarde, o PP perdia um de seus expoentes, o deputado e ex-ministro Delfim Netto (SP), que assinou formalmente a ficha de filiação ao PMDB. E o maior símbolo nacional do PP, o ex-prefeito Paulo Maluf, está preso desde sábado em São Paulo.

Um herdeiro da Arena

O PP é herdeiro daquela sigla que se autoproclamava o maior partido do Ocidente, a Arena, criada em 1965 para sustentar o regime militar. Em 1966, a legenda elegeu 277 dos 409 deputados da Câmara de então, além de 18 das 22 vagas de senador. Em 1986, contudo, eram 33 deputados. Em 2004, a sigla, agora PP, não fez nenhum prefeito de capital. Hoje, são 54 deputados e nenhum senador.

O partido está em decadência desde a redemocratização, quando passou a se chamar PDS. A eleição de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral contra Maluf, em 1984, rachou a sigla. Os dissidentes formaram a Frente Liberal, depois PFL. O PDS continuou a mudar de nome: tornou-se PPR, rebatizou-se de PPB e em 2003 tentou dar a volta por cima enxugando a sigla para PP. Não disputou as duas últimas eleições presidenciais, mas participou do primeiro escalão do governo Fernando Henrique Cardoso.

Com Severino eleito, esperança de crescer

A eleição de Severino para presidente da Câmara foi um alento. A cúpula do partido passou a percorrer o país com a nova estrela fazendo planos. Esperava dobrar a bancada e chegar a cem deputados. Conseguiu a sonhada vaga na Esplanada dos Ministérios, o ministro das Cidades, Márcio Fortes de Almeida.

Ontem, no entanto, o PP não tinha qualquer horizonte. Delfim assinou ficha cercado por um ex-companheiro do extinto PDS, o senador José Sarney (AP), e por vários adversários do passado. O poderoso ex-ministro do Planejamento explicou que entrava no PMDB porque o país precisa de poucos partidos fortes. Delfim preferiu não falar do ocaso da sigla que o abrigava. E foi lacônico ao comentar a relação entre sua saída, a queda de Severino, as acusações aos dirigentes e a prisão de Maluf:

- A probabilidade zero não significa impossível. É coincidência? Pode ser coincidência - observou.

Legenda, que perdeu Delfim para PMDB, tem presidente réu de CPI e líder na lista de cassação

Legenda da foto: PEDRO CORRÊA, presidente do PP, no depoimento na CPI do Mensalão