Título: GUSHIKEN NEGA QUE TENHA INTERFERIDO EM FUNDOS DE PENSÃO
Autor: Adriana Vasconcelos
Fonte: O Globo, 15/09/2005, O País, p. 14

Ex-ministro da Secretaria de Comunicação discute com deputados durante seu depoimento à CPI dos Correios

BRASÍLIA.Visivelmente desconfortável e mostrando irritação em vários momentos, Luiz Gushiken, ex-ministro da Secretaria de Comunicação e Gestão Estratégica do governo, admitiu ontem, em depoimento à CPI dos Correios, que fez indicações e manteve contatos estreitos com dirigentes de fundos de pensão, mas assegurou que nunca interferiu nos negócios fechados por essas instituições. Ele negou as acusações de que teria beneficiado as agências de publicidade de Marcos Valério de Souza em licitações de estatais e, ao contrário de outros petistas que foram ouvidos pela CPI, rebateu com veemência todos os ataques ao governo Lula.

O ex-ministro chegou a ser repreendido quando reagiu aos gritos às acusações do deputado Onyx Lorenzoni (PFL-RS) de que seria integrante de uma quadrilha de corruptos montada pelo PT.

- Espanta-me a leviandade com que trata o governo. Para me acusar de formador de quadrilha, apresente provas! Não se esconda sob seu mandato para fazer acusações levianas! - berrou Gushiken, após a interpelação de Lorenzoni.

- Contenha-se! - pediu o vice-presidente da CPI, deputado Asdrúbal Bentes (PMDB-PA).

Em seu depoimento, Gushiken admitiu que ainda durante o governo de transição indicou Wagner Pinheiro para a presidência da Petros. Devido ao interesse que sempre teve sobre as atividades dos fundos de pensão, disse ainda que mantinha contatos constantes com o presidente da Previ, Sérgio Rosa, de quem se considera amigo, e também do presidente da Funcef, Guilherme Lacerda. Mas negou que tenha fundado a "República Gushiken" nos fundos de pensão.

- Isso são calúnias, difamações, recheadas de fantasias - argumentou.

Gushiken não fez a menor questão de esconder suas divergências com o empresário Daniel Dantas, do grupo Opportunity, a quem acusa de ser o responsável pela contratação da Kroll para espioná-lo. Ele admitiu que durante a campanha presidencial de 2002 chegou a sugerir ao PT que não recebesse qualquer doação de Dantas, mas negou ter discutido com o ex-ministro José Dirceu o interesse do empresário de fazer negócios com fundos de pensão.

O senador Heráclito Fortes (PFL-PI) saiu em defesa de Dantas. Apresentando uma carta do presidente da Kroll, Frank Holden, a Carla Cico, presidente da Brasil Telecom, o senador pefelista corrigiu Gushiken atribuindo ao Citigroup a responsabilidade pela espionagem e criticou a "ingerência indevida" do ex-ministro nos fundos de pensão. A resposta de Gushiken foi imediata:

- Não considero nada indevido meu interesse sobre o que diz respeito ao interesse público. Como homem de governo, considero essa uma obrigação minha. Não faço juízo de valor sobre esse empresário, de quem vossa excelência tem se notabilizado como um grande defensor, mas apenas repito o que já li na imprensa a respeito dele. Ele aparece como acusado de formação de quadrilha, de não cumprir decisões judiciais e de corrupção ativa.

Gushiken minimizou o impacto da redução de R$3 milhões para R$1,8 milhão na exigência de patrimônio líquido das agências de publicidade que disputaram a licitação dos Correios, o que viabilizou a participação da SMP&B na disputa. Assim como a resolução que determinou que a Secom indicasse a maioria dos representantes das comissões de licitações das estatais. E se irritou quando o deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), relator da CPI, fez ponderações de que parecia que havia sido feito um acordo informal para que Marcos Valério ficasse com determinadas contas de estatais e o publicitário Duda Mendonça com contas na administração direta pública federal.

- Eu repudio a insinuação de que a Secom montou esse jogo - rebateu.

Gushiken também foi enfático ao defender a transação feita pela Gamecorp, empresa que tem entre seus sócios um dos filhos do presidente Lula, e a Telemar.

- O filho do presidente tem o direito, assim como o filho de qualquer pessoa, de instalar uma empresa no país e disputar espaço no mercado - salientou o ex-ministro.

Para o relator da CPI, o depoimento de Gushiken foi pouco produtivo e sua irritação pode ser interpretada de duas maneiras:

- Pode ser a ira santa de quem é acusado injustamente ou simplesmente uma estratégia de defesa.