Título: MALUF RECLAMA DA QUENTINHA: 'NEM PARA CACHORRO'
Autor: Adauri Antunes Barbosa/Flávio Freire
Fonte: O Globo, 15/09/2005, O País, p. 15

Ex-prefeito, que tem acesso a jornais na prisão, rebate da cadeia as declarações do presidente Lula

SÃO PAULO. O ex-prefeito Paulo Maluf, preso desde sábado, reclamou da comida na cadeia e disse que é tão ruim que não serviria nem para cachorros:

- Aqui deveria ter mais um pouco de controle de qualidade no fornecedor da quentinha. Porque a quentinha que hoje serviram pra mim, eu não tenho cachorro em casa, mas se eu tivesse, não daria nem para o meu cachorro - disse ele, na superintendência da Polícia Federal (PF) de São Paulo, a uma equipe de reportagem da TV Bandeirantes, à qual deu uma rápida entrevista com autorização da Justiça.

Embora a PF tenha instaurado sindicância para apurar se o ex-prefeito vem recebendo mordomias na cadeia, como o uso de telefones, Maluf demonstrou na entrevista à TV que recebe vários privilégios, como a leitura de jornais.

Maluf comentou ainda as declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Guatemala de que o ex-prefeito não seria o primeiro nem o último a ser preso por irregularidades.

- Declaração infeliz do presidente. Ele não está a par do problema, e se ele quiser realmente começar a prender os culpados comece por Brasília. Tenho certeza de que o número de presos dá a volta no quarteirão, e a maioria é do partido dele, do PT - disse o ex-prefeito, com um jornal nas mãos.

Preso na cela com os Maluf dorme em colchonete

Ele reclamou dos "exageros" na prisão de seu filho Flávio Maluf e da cela que divide com ele e com outro preso. Na sala de 15 metros quadrados há um banheiro, uma bancada e um beliche ocupado pelos Maluf. O ex-prefeito dorme na cama de baixo, onde foi improvisada uma cortina. O terceiro preso ficou com um colchonete.

- Olha, eu sou cristão. Cristo, na via sacra, nas igrejas, teve 14 estações. Eu já percorri 140 estações de via sacra de injustiças, de perseguições ilegais, mas graças a Deus tenho meus 13 netos e é por eles que eu sobrevivo - disse Maluf.

O advogado do ex-prefeito, José Roberto Leal, disse ontem que aconselharia a mulher do ex-prefeito, Silvia Maluf, a não ir vê-lo hoje, dia de visitas na PF:

- É muito assédio da imprensa e constrangimento.

Em razão de uma série de prisões ocorridas ontem, a carceragem da PF estaria ainda mais lotada. Com capacidade para 60 detentos, a custódia federal teria mais de 120 pessoas nas celas. Maluf e Flávio, que já dividem a cela com mais um preso, poderão ficar junto de mais dois ou três. (Flávio Freire e Adauri Antunes Barbosa)

Advogado pede hábeas-corpus

Prisão só poderia ser decretada por TRF, argumenta a defesa

SÃO PAULO. Os advogados de Paulo Maluf entraram ontem com pedido de hábeas-corpus contestando a competência da juíza federal Silvia Maria Rocha, que decretou a prisão do ex-prefeito e do filho dele, Flávio Maluf, na sexta-feira. A defesa argumenta que, pelo fato de Maluf também responder por crime de corrupção passiva, atribuída a quem exerce cargo público, a prisão preventiva só poderia ser decretada pelo Tribunal Regional Federal (TRF), e não em primeira instância, caso da juíza da 2ª Vara Federal.

- A lei diz que quem exerce determinados cargos tem foro privilegiado. Ela (a juíza) é incompetente para decretar a prisão dele - alegou o advogado de Maluf, José Roberto Leal.

A defesa diz que não ficou comprovado que o ex-prefeito tentou intimidar o doleiro Vivaldo Alves, o Birigüi, que teria operado pelo menos R$161 milhões para a família no exterior.

- Além disso, o doleiro é réu no processo, e não testemunha - disse Leal.

A juíza aceitou o pedido de prisão feito pelo Ministério Público Federal, que se baseou no relatório Polícia Federal que também exigia a prisão de Maluf e Flávio.

Os advogados de Maluf pediram ontem ao TRF a desconsideração dos hábeas-corpus impetrados por dois advogados que não são contratados pela família Maluf.

Assim como o de Flávio, o pedido de hábeas-corpus de Maluf feito ontem será distribuído ao juiz federal convocado da 1ª Turma do Tribunal, Luciano de Godoy, substituto da desembargadora Vesna Kolmar, que está de férias e já analisava recursos de outros processos do ex-prefeito. Desde ontem, Godoy analisa o pedido de liminar de Flávio, protocolado na terça-feira pelo advogado José Roberto Batocchio. (F.F. e A.A.B.)