Título: MST CONTRA AS ARMAS
Autor: Toni Marques/Chico Oliveira
Fonte: O Globo, 15/09/2005, O País, p. 16

Stédile anuncia engajamento na campanha pelo fim do comércio de armas

O líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Pedro Stédile, anunciou ontem no Rio que o movimento vai se engajar na campanha do desarmamento, apoiando o voto pelo fim do comércio de armas no Brasil no referendo marcado para o dia 23 do mês que vem. Stédile disse que o MST confeccionará materiais didáticos para divulgação das razões que enumera para o fim do comércio, e também os militantes farão panfletagem no dia da votação.

- Estamos engajados na campanha pelo sim à proibição da venda de armas. E aí, dentro do movimento, vamos fazer uma série de materiais didáticos: cartilhas, folhetos. Vamos difundir isso na nossa base - disse Stédile ontem, depois de participar do seminário "Terra, fome e democracia", segundo do ciclo "Conversas com Betinho", promovido pelo Ibase no auditório do GLOBO.

Segundo ele, as cerca de 40 mil mortes por armas de fogo ocorridas anualmente no Brasil poderiam ser evitadas pela proibição do comércio de armas. Mas frisou que a proibição será um ponto de partida:

- Quem está morrendo são pobres, trabalhadores, jovens, negros e mulatos, das grandes periferias. São 40 mil pessoas por ano. Todas essas mortes poderiam ser evitadas se houvesse, primeiro, esta limitação. Temos que preservar a vida. Depois, vamos encontrar soluções para que essas pessoas tenham futuro nas nossa sociedade.

No debate, que foi mediado por Francisco Menezes, presidente do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), Stédile e o ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rosseto, divergiram sobre os rumos da política do governo Lula para o trabalhador rural. Stédile disse que a reforma agrária ideal só acontecerá no Brasil com a derrubada do ministro da Fazenda, Antônio Palocci, e a sua "política neoliberal". Rosseto defendeu as políticas do governo de valorização da pequena e média propriedade e de apoio aos assentamentos já consolidados.

- Se, de um lado, há o Miguel Rosseto cuidando da reforma agrária e o Patrus Ananias dos programas sociais, há também o Roberto Rodrigues, o Luiz Fernando Furlan, especialista em viajar pelo mundo vendendo frango, e o Antônio Palocci, um neoliberal. A reforma agrária está parada no governo Lula por causa da política neoliberal. Por favor, nos ajude a derrubar o Palocci e a política econômica - disse Stédile.

Rosseto garantiu que não há, no mundo, uma única experiência bem-sucedida de justiça social que considera a concentração de terras. Ao destacar a importância que o governo tem dado aos pequenos e médios proprietários, Rosseto lembrou que o Brasil tem hoje 4,4 milhões de famílias vivendo em pequenas propriedades. Este modelo, segundo ele, já responde por 33% da produção agrária e a 77% da ocupação do campo.

- A aposta neste modelo é mais sustentável e produtiva. Queremos chegar a 2006 com 100% de assistência aos assentamentos já existentes.

O ministro reclamou da resistência por parte dos estados e municípios, alguns considerados por ele reacionários, ao Congresso Nacional, o que trava o processo de obtenção de terras no país, e ao Judiciário, com o acúmulo e julgamento dos processos de desapropriação de terras. (Toni Marques e Chico Otavio)

Legenda da foto: O MINISTRO Miguel Rosseto (à esquerda), Stédile e Menezes: debate sobre reforma agrária