Título: Nomes para a travessia
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 16/09/2005, O Globo, p. 2

Com o alto placar favorável à cassação de Roberto Jefferson, a Câmara mostrou que, para tirar sua credibilidade do chão, está disposta a fazer o que a opinião pública lhe ordena. Mas podem ainda os deputados cavar ruína maior se, confirmada a renúncia de Severino Cavalcanti, partirem para uma disputa por seu lugar de presidente.

O que todos os partidos estão dizendo, enquanto a hora não chega, é que devem evitar o confronto e buscar um nome de consenso, seja de que partido for, que tenha como atributos a respeitabilidade e a ampla aceitação. Seu mandato será tampão e sua principal tarefa resgatar a dignidade e a rotina funcional da Casa. Bonito de dizer mas difícil de fazer. Quando a substituição estiver devidamente posta, as ambições vão aflorar, e na falta de consenso, a disputa pode acabar acontecendo.

¿ Se houver uma votação naquele plenário vamos repetir a luta fratricida de fevereiro, que só prejudicou a instituição. Temos que chegar ao consenso, favorecidos pelo fato de que agora não há favoritos, são todos japoneses ¿ diz o vice-líder tucano Eduardo Paes.

São todos japoneses porque, na visão da oposição, o PT perdeu a oportunidade de reivindicar sua condição de partido majoritário à medida que não se somou logo ao movimento para afastar Severino. Fez isso mesmo o PT, mas não jurando pela inocência de Severino ou tentando salvá-lo. Ao reclamar primeiro a prova, mirava o processo de cassações que apenas começou, tentando erigir a existência de prova e direito de defesa como preliminares para a condenação. O custo pode ter sido mesmo a exclusão de nomes até antes bem aceitos, como os de Paulo Delgado, José Eduardo Cardozo e Sigmaringa Seixas. Até aqui, ciente de sua fragilidade, o PT não lançou ninguém nem reivindicou o cargo, mas isso não suprime a dificuldade de se chegar a consenso.

Já há divergências na oposição entre os que se lançaram primeiro no movimento para afastar Severino. O PFL trabalha pela sacramentação de José Thomaz Nonô, já provado no cargo como vice-presidente e substituto freqüente de Severino. Mas ali também há José Carlos Aleluia, nome defendido por outros grupos no partido.

O líder do PSDB, Alberto Goldman, tem apresentado o do deputado, ex-líder e ex-ministro Jutahy Júnior. No PPS, Roberto Freire defende a opção por Nonô, que a seu ver seria uma solução natural. Acredita que os receios do governo são infundados, que um processo de impeachment mal fundamentado não seria aprovado por ele unilateralmente, sem consulta aos demais partidos. Mas há o receio, e ainda que o PT não esteja em condições de impor um nome seu, não está fora do jogo ao ponto de ter que engolir qualquer nome da oposição.

Nem seria também esta uma boa solução. O bom nome, como diz Eduardo Paes, não deverá representar o governo nem ser comprometido exclusivamente com a oposição. É nisso que aposta o PMDB quando apresenta o deputado Michel Temer, que já presidiu a Casa por quatro anos, não é da ala governista do PMDB nem é também um falcão da oposição. Foi dos que defenderam a apresentação de prova para que tivesse curso o processo contra Severino.

Quase todos na Câmara acham que os dois nomes mais fortes são exatamente os de Nonô e Michel. Mas o fato de serem dois os favoritos já fala da dificuldade de se chegar ao consenso.