Título: Empregada: sacos de dinheiro na casa de Daniel
Autor: Flávio Freire e Alan Gripp
Fonte: O Globo, 16/09/2005, O País, p. 12

Chefe de gabinete de Lula depõe na CPI dos Bingos e nega acusações de irmão do prefeito assassinado de Santo André

SÃO PAULO e BRASÍLIA. Uma ex-empregada doméstica do prefeito de Santo André Celso Daniel afirmou, em depoimento na sexta-feira, ter visto na casa do petista, assassinado em janeiro de 2002, três sacolas ¿abarrotadas de dinheiro¿. A afirmação reforça a tese da Promotoria Criminal de que Daniel não só tinha conhecimento como também estaria envolvido no esquema de arrecadação de recursos para as campanhas eleitorais do PT.

No depoimento ao promotor Roberto Wider e à delegada Elizabeth Sato, da 78ª DP da Polícia Civil, a ex-funcionária, cujo nome é mantido em sigilo, disse ter visto, oito meses antes do crime, três sacolas cobertas por lençol na área de serviço da casa. Ao retirar o lençol, viu que estavam cheias de notas de R$10, R$50 e R$100.

¿ É forte indicação de que Daniel sabia do esquema e o tolerava para financiar campanhas do PT ¿ diz Wider, lembrando que testemunhas sempre reforçaram a vida simples do prefeito. ¿ Ter sacolas cheias de dinheiro em casa não condiz com uma vida simples.

Doleiro convocado e quebra sigilo de Juscelino Dourado

O chefe de gabinete do presidente Lula, Gilberto Carvalho, negou ontem em depoimento na CPI dos Bingos ter participado de esquema de caixa dois do PT em 2002. Em sessão secreta, ele afirmou que nunca atuou como ¿mula do partido¿, transportando dinheiro de propina arrecadado em Santo André para o então presidente do PT, José Dirceu, na sede em São Paulo.

A denúncia foi feita à CPI pelo irmão de Celso Daniel, João Francisco Daniel. Ele disse que após a morte do irmão, Gilberto Carvalho lhe confidenciou em pelo menos três encontros que recebia dinheiro de propina do prefeito e transportava-o em seu Corsa preto para São Paulo. Carvalho afirmou que nunca soube de esquemas de corrupção na Prefeitura de Santo André. Ele confirmou, porém, ter participado de cinco encontros com familiares de Daniel, dois a sós com João Francisco. Um dos encontros teria ocorrido no apartamento do deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP).

A CPI também marcou para a próxima terça-feira o depoimento do doleiro Antonio Oliveira Claramunt, o Toninho da Barcelona, convocado sem sequer ter sido citado nas investigações. E aprovou ainda a quebra do sigilo telefônico, bancário e fiscal por cinco anos de Juscelino Dourado, ex-chefe de gabinete do ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Juscelino deixou o cargo depois de ser acusado de traficar influência no ministério.