Título: PAI DIZ QUE POLÍCIA EXTORQUIA DINHEIRO DO FILHO
Autor: Aba Claudia, Cristiane de Cássia e Jorge Martins
Fonte: O Globo, 16/09/2005, Rio, p. 13

`Ele era obrigado a roubar. Mataram a galinha dos ovos de ouro¿

Com as mãos e o rosto ainda sujos com o sangue do filho, o pai de Pedro Dom, o policial civil aposentado Luiz Victor Lomba, de 61 anos, não poupou críticas ontem à polícia que, segundo ele, teria executado o assaltante. Presidente de uma ONG que atua na prevenção do uso de drogas, Luiz disse que o bandido era achacado com freqüência e que era obrigado a roubar para dar dinheiro a policiais corruptos. O aposentado afirmou ainda que conversou com o filho na terça-feira para combinar como ele se entregaria:

¿ O que tínhamos acertado é que ele se apresentaria amanhã (hoje). Ele estava indo para a Rocinha e depois me encontraria para se entregar. Cheguei a ligar duas vezes para o gabinete de Álvaro Lins (chefe de Polícia Civil) e para José Renato Torres (subchefe de Polícia Civil) ontem (anteontem) para dar essa informação, mas não fui atendido ¿ disse ele.

Em seguida, acusou a polícia de ter executado o criminoso:

¿ Ele se entregou, mas levou um tiro de fuzil no peito. Se fosse um confronto, o fuzil estaria no automático e ele teria levado diversos tiros. Falo isso com a experiência de quem foi policial.

Luiz esteve pela manhã no Hospital Miguel Couto, no Leblon, para onde o corpo de Pedro Dom foi levado inicialmente, e depois seguiu de táxi, juntamente com um sobrinho, para o IML, no Centro. Exaltado, o aposentado acusou policiais de extorquirem dinheiro do filho regularmente:

¿ Ele era achacado praticamente toda semana. Prendiam-no e o mandavam conseguir dinheiro. Ele era obrigado a roubar mais e mais para pagar aos policiais. Mataram a galinha dos ovos de ouro.

Segundo Luiz, Pedro Dom chegou a pegar R$20 mil emprestados com o traficante Erismar Rodrigues Moreira, o Bem-Te-Vi, da Rocinha, para entregar a policiais:

¿ A polícia é que o impediu de sair do crime. Ele tinha que fazer dívidas com os traficantes e precisava roubar para pagar. Ele mesmo não tinha bens. Tudo que roubava era para policiais. Mas quero que fique claro que não concordo com o que meu filho fazia, sou um homem de bem.

Álvaro Lins minimizou as acusações:

¿ Essas afirmações de que ele era achacado fazem parte do desespero de um pai que perdeu um filho.

O comerciante Gustavo Almeida, primo de Pedro, também fez denúncias contra a polícia, durante o enterro do assaltante, no Cemitério do Caju. Segundo ele, o bandido foi preso na Barra e em Copacabana e acabou solto depois um acerto com os policiais.

¿ Ele me contou que nessas duas prisões perdeu R$50 mil e dois quilos de ouro ¿ disse Gustavo.

Ele afirmou ainda que 70% dos crimes atribuídos ao primo foram praticados por outros bandidos. Gustavo lembrou um assalto ocorrido no dia do aniversário de Bem-Te-Vi, em julho.

¿ Estava todo mundo lá no aniversário do Bem-Te-Vi. Pedro estava do meu lado quando soube da notícia de que ele teria acabado de assaltar uma residência. E perguntou: ¿Como roubei se estou aqui?¿.

O enterro teve a presença de 15 parentes. Jornalistas foram ameaçados de agressão caso tentassem acompanhar o cortejo. A Secretaria de Segurança informou que não vai se manifestar sobre as acusações de Gustavo, porque não há denúncia de extorsão registrada.