Título: O fim do terror da classe média
Autor: Aba Claudia, Cristiane de Cássia e Jorge Martins
Fonte: O Globo, 16/09/2005, Rio, p. 13

Assaltante enfrenta a polícia, lança granada e é morto em prédio na Lagoa

Com perseguição, explosão de uma granada na saída do Túnel Rebouças e a invasão de um prédio na Lagoa, acabou na madrugada de ontem a história de um jovem bandido de classe média que, nos últimos seis anos, comandou uma onda de assaltos a residências na Zona Sul, na Barra da Tijuca e no Recreio dos Bandeirantes. Pedro Machado Lomba Neto, o Pedro Dom, de 23 anos, foi morto com quatro tiros por policiais civis, acuado dentro de um edifício na Avenida Alexandre Ferreira. O cerco para capturar o criminoso foi montado depois que a polícia descobriu, por meio de escutas telefônicas feitas por volta da meia-noite, que o bandido sairia na garupa de uma moto da Vila dos Pinheiros, na Maré, para a Favela da Rocinha.

Nos telefonemas interceptados com autorização da Justiça, Pedro Dom afirmava que jamais se entregaria. Dizia que jogaria uma granada nos policiais e reagiria até ser morto. Foi o que ele fez.

Quinze policiais da 22ª DP (Penha) e da 15ª DP (Gávea) participaram do cerco. Com um carro descaracterizado, cinco agentes ficaram baseados, a partir de 1h30m, na entrada do Túnel Rebouças no Rio Comprido. Outra equipe com dez policiais ficou na saída do túnel, na Lagoa.

Por volta de 3h, uma moto passou pela entrada do Rebouças em direção à Zona Sul com Pedro Dom, de capacete, na garupa. A moto era pilotada por Sandro Soares Tavares, de 24 anos. Na saída do túnel, Pedro Dom teria ordenado ao piloto para acelerar e furar o bloqueio. Ao passar pelos policiais, que não atiraram num primeiro momento, o assaltante lançou para trás uma granada, que explodiu antes de chegar ao chão. Estilhaços feriram sem gravidade o delegado titular da 22ª DP, Eduardo Freitas, que comandou a operação, no braço direito, e um inspetor, na mão direita. Logo após a explosão, Pedro Dom pulou da moto e fugiu a pé.

Mesmo com o pneu traseiro furado por um tiro e com o pé esquerdo baleado de raspão, Sandro não parou e só foi preso pouco tempo depois, quando a moto não teve mais condições de rodar. Já Pedro Dom tentou escapar pulando o muro do Edifício Bauhaus, na Alexandre Ferreira.

No prédio, o assaltante se escondeu no terceiro andar. O porteiro chamou a PM, mas os policiais civis chegaram antes. Às 3h30m, o bandido foi encontrado no corredor e recebeu voz de prisão, mas reagiu. O confronto foi intenso. Pedro Dom, segundo laudo da Polícia Civil, foi atingido por quatro tiros: no pé, no antebraço e no ombro direitos (balas de calibres não especificados) e entre o tórax e o abdôme (projétil de fuzil 5,56). Foi este último tiro que causou sua morte, ocorrida enquanto era levado para o Hospital Miguel Couto, no Leblon.

¿ Nós dissemos a ele para se entregar. Mas ele gritava o tempo todo que não se entregaria. Isso tudo atirando sem parar ¿ contou o delegado Eduardo Freitas.

Com Pedro Dom foi apreendida uma pistola Rugger 9mm, com três carregadores. Segundo a polícia, não havia qualquer munição nos pentes. O assaltante também carregava uma mochila na qual foram encontradas jóias de ouro roubadas, além de dois celulares, quatro chaves de fenda e um alicate. O material foi levado para a 15ª DP (Gávea).

Morador da Rocinha, Sandro negou conhecer Pedro Dom. Ele alegou que foi contratado pelo bandido por R$30 para levá-lo até a Vila dos Pinheiros e voltar à Rocinha. Sandro disse que, ao ver a polícia, pretendia parar, mas foi ameaçado por Pedro Dom.

¿ Ele colocou a arma nas minhas costas e me mandou continuar, se-não me mataria.

O chefe de Polícia Civil, Álvaro Lins, disse que a operação foi resultado de um trabalho de inteligência bem-sucedido.

¿ Era uma questão de honra a prisão de Pedro Dom. Nós o queríamos vivo ou morto.

De acordo com Lins, o assaltante estava sendo monitorado pela polícia há cerca de dois meses. Nas conversas grampeadas, parentes de Pedro Dom pediam a ele para deixar o crime e sair do país para se tratar da dependência da cocaína.

O edifício da Avenida Alexandre Ferreira amanheceu com marcas da caçada a Pedro Dom. A mais visível era o rastro de sangue no corredor, na escada e no elevador de serviço. Acordados no meio da madrugada pelo barulho de tiros na rua, disparados durante a perseguição, os moradores dos dez apartamentos viveram momentos de pânico quando a polícia entrou no prédio.

A jornalista Maria Vargas acompanhou pela janela a movimentação policial:

¿ Os policiais estavam fazendo buscas em diversas ruas e até dentro do canal da avenida. Discutiam muito, gritavam e um deles dizia sempre que alguém estava dentro do prédio. Pensei que era um assalto. Só soube que era o Pedro Dom às 4h30m, quando Álvaro Lins chegou.

Os policiais invadiram o prédio por volta de 3h15m. Antes, avisaram aos moradores para não sair dos apartamentos e só abrir a porta para duplas, já que o bandido estava sozinho.

Segundo a tradutora Cristina Bazan, de 60 anos, moradora do terceiro andar, os policiais chegaram a gritar para que Pedro Dom parasse. Foi ouvido então um disparo, seguido de outros dois. Instantes depois, mais dois tiros foram disparados. A escada do terceiro andar ficou cheia de sangue, assim como a lixeira, onde o assaltante teria se escondido por último.

¿ Quando começaram os tiros no corredor, eu e minha filha nos escondemos no quarto. Foram estrondos horríveis ¿ lembrou.

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