Título: O longo caminho da droga até o bucho do boi
Autor: Carla Rocha e Célia Costa
Fonte: O Globo, 16/09/2005, Rio, p. 15

Cocaína era levada de avião da Colômbia para Mato Grosso do Sul e seguia de caminhão para o Rio, via Paraná

Uma operação complexa, com ramificações em Lisboa, no Suriname e na Colômbia, era realizada pela quadrilha desarticulada ontem pela Polícia Federal. O bando operava a partir de Mato Grosso do Sul. A cocaína chegava ao estado de avião trazida da Colômbia e era guardada em galpões em fazendas até seguir para o Rio em caminhões, passando pelo Paraná. A carne bovina tinha outra origem: as 50 toneladas de bucho apreendidas com a droga foram compradas de um frigorífico no interior de São Paulo.

Segundo agentes do Grupo de Investigações Sensíveis (Gise) da PF de Brasília ¿ responsáveis pelas investigações ¿ só no Rio a cocaína da Colômbia era embalada juntamente com a carne. Todo o processo era industrial: a embalagem era feita a vácuo. A cocaína e a carne eram congeladas num frigorífico do Mercado São Sebastião, na Penha. Para não despertar suspeitas, uma empresa fantasma de exportação ¿ a Agropecuária da Bahia Ltda ¿ foi criada com sócios e endereços fictícios.

Droga seguia de navio para a Europa

A cocaína seguia de navio para a Europa em contêineres lacrados. O destino era a Espanha, mas a PF informou que o destino final era Portugal. Lá ela seria distribuída para vários países. A mesma quadrilha já teria enviado outros carregamentos semelhantes para a Europa.

As investigações duraram dois anos. A quadrilha, segundo a PF, é chefiada pelo português Antônio dos Santos Damaso, dono de uma rede de supermercados em Lisboa. Ele teria vindo ao Rio para comandar o embarque da droga. Ontem pela manhã, Damaso foi preso num shopping na Barra, quando se encontrava com o dono galpão no Mercado São Sebastião, Rocine Galdino de Souza, e o traficante Carlos Roberto da Rocha, o Tobe, irmão de Luís Carlos da Rocha, o Cabeça Branca, um dos maiores traficantes do Brasil, que está foragido no Suriname. Segundo os agentes, Luís Carlos fornecia a droga da Colômbia, via Londrina (PR).

Rocine Galdino de Souza foi levado até o galpão, que fica na Rua da Cevada, no Mercado São Sebastião. No local, dentro de câmeras frigoríficas, estava a carne que seria exportada. Os agentes federais usaram cães farejadores e, com ajuda de funcionários de uma empresa, começaram a serrar as peças de carne congelada. Dentro de cada uma, havia dois tabletes de cocaína com um quilo cada.

Os agentes prenderam também o advogado Estilac Oliveira Reis, apontado como arquiteto jurídico do esquema. Ele foi preso na Estrada do Mendanha, em Campo Grande. O empresário José Antônio Palinhos Jorge Pereira foi preso em Ipanema, com sua secretária, Vânia de Oliveira Dias, a Fabiana. Na Avenida Sernambetiba, os agentes prenderam Márcio Junqueira de Miranda, apontado como responsável pela embalagem da droga.

COLABOROU: Tulio Brandão